A mais pequenina

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Princesa

sábado, 19 de maio de 2012

TIMOR - a paixão


Há dez anos estive lá.
Em Tacitolo
Eram aos milhares, centenas milhares.
O Povo de Timor comemorava a sua dignidade e, por via dela, a sua independência. Segundo Matoso, na sua obra “A dignidade de Konis Santana” foi essa a arma primeira do Povo Maubere na resistência ao ocupante.
Vi e vivi a festa daquela noite.
Os choros da emoção e da saudade pelos que deram a vida por aquela causa… ouvi as orações das crianças e dos adultos e partilhei os silêncios envoltos no breu da noite, onde não chegavam as luzes dos holofotes.
Vivi e chorei naquele 20 de Maio quando a bandeira de Timor se desfraldou lenta e cerimoniosamente, ao som daquelas femininas e celestiais vozes que entoavam o hino da primeira nação do século XXI…
E estive com Xanana dias mais tarde.
Senti a serenidade de combatente e estratega que levou Timor à vitória.
E, mais do que isso, deixei-me inundar por aquele mar de humildade. A humildade dos grandes.
E voltei a Timor.
E voltei. E voltei...
Sempre com o privilégio de estar com Xanana. Mais do que isso, trabalhar para aquele Povo a convite deste amigo especial.
Foram bons e gratificantes todos aqueles momentos…

Aquelas reuniões…
Aquelas conversas…
sempre com Timor com pano de fundo…
E voltei lá em Janeiro passado…
E estive de novo com Kay Rala Xanana Gusmão.
Duas horas…ou mais…
Para preparar novos trabalhos, novas colaborações… qual gota do oceano que também pode ajudar a pensar o futuro.
E Xanana está diferente.
Muito diferente.
Mais e melhor conhecedor do que pretende para o seu país.
Profundo dominador da sua estratégia para Timor.
Como nunca, sabe o que quer e o que pode fazer...
Para desenvolver a sua terra.
O homem que no passado recente conheceu todos os cantos do seu país, porque os calcorreou no combate ao inimigo, sabe hoje melhor do que nenhum outro, o que precisa cada um desses cantos para que o Povo sinta que valeu a pena.
Xanana que foi estratega na guerra é hoje um estratega na paz em busca do melhor para Timor.
Com uma particularidade:
Continua humilde. O humilde que fala com os silêncios e que tem no olhar a expressão da palavra. Xanana que hoje mereceu o maior aplauso da noite de Tacitolo, porque o Povo não esquece e Ramos Horta relembrou:  

Xanana, o nosso irmão que nos levou à vitória.

Obrigado Xanana pelo convite para hoje voltar a Tacitolo.
Guardá-lo-ei na arca das minhas melhores memórias…
Vi a festa pela televisão e também aplaudi quando o Povo, em uníssono, te aplaudiu.
Como escreveu Richard Bach, “não há longe nem distância” e, como há dez anos, emocionei-me.
Viva Timor Leste!

António Rodrigues

19 em Lisboa, 20 de Maio em Timor Leste