A mais pequenina

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Princesa

domingo, 3 de dezembro de 2017



O meu Pai
O meu Pai é calceteiro.
Ainda muito jovem, veio do Pinheiro no concelho de Ansião, até Torres Novas e por cá ficou e casou. 
É artista da pedra.
Foi assim durante 75 anos de trabalho.
Nasci e aprendi a vê-lo dobrado sobre si mesmo, com a dureza da profissão, a partir pedra e a calcetar.
Aquelas costas apanharam milhares de horas de sol, de chuva e de frio. A trabalhar no “duro” para o sustento da casa. Sem nada reivindicar e sem nada exigir.
Por aquelas mãos passaram milhões de pedras, para fazer calçada portuguesa. Para fazer arte; a arte dos pobres, mas arte.
Quando garoto, recordo-o a chegar a casa, na sua pequena motorizada Sachs Minor, cansado após oito horas de labuta, mas sempre com uma confiança que a todos nos transmitia. Nunca, mas nunca faltou ao trabalho, porque também a felicidade da sua saúde assim o permitiu.
Foi dobrado e de pedra na mão, que faz ferida e calos, que a todos nos educou e preparou para a vida.
Hoje, com 86 anos, saiu de sua casa, a 40 km de Torres Novas. Veio a conduzir a sua carrinha de trabalho. Nela trazia pedra de calcário e granito. E o seu martelo…, claro.
Veio à nova casa da sua neta mais velha, a Rita, para deixar no chão e para sempre oferecer, o símbolo da sua arte. Casa, com carga emocional bem expressiva, porque nela vivemos, entre os meus quatro e oito anos de idade. No tempo em que em torno dela só havia oliveiras e figueiras… e a eira do Barreirá… mistérios da vida, estas coincidências…
Chegou cedo e, passadas seis horas, com óbvio intervalo para o almoço, deixou à neta a pequena obra de arte, que as fotos revelam. E fê-la com carinho, ternura e vaidade, porque para a neta; a sua neta mais velha.
O meu Pai é assim: artista da pedra.
Homem de trabalho, o Sr. Acácio Rodrigues
Obrigado Pai.
António Rodrigues
27.09.2017

Marcelo, o cristão 

Não votei em Marcelo.

Não gostava dele.

Mudava de canal, quando aparecia o Professor… achava que ele abusava dos comentários e se exibia. Mas sabia, reconhecia e reconheço que não é inteligente… é muito inteligente.

Hoje, ele é para mim e, porventura para muitos, o paradigma do político quase ideal.

É ele que perante tragédia empurra emocionalmente o país. E empurra-o com gestos de afecto e de carinho. De ternura e de comoção. E vê-se que o homem é sincero, é genuíno. E um homem sincero e genuíno, quando muito inteligente, torna-se “perigoso”. Porque diferente, porque provocador. Mas perigoso, porque activo e bom de coração.

Hoje, ouvem-se algumas (poucas) vozes do PS – os que têm a memória curta - a discordarem do seu discurso de Oliveira do Hospital, em que deu um murro na mesa, impondo um rumo, um caminho de união, colocando à frente de tudo, os interesses do nosso país…

Foi e é o garante de um Portugal unido na dor e na tragédia. Terá sido, em minha opinião, o murro mais feliz e mais eficaz da história da democracia portuguesa. Ajudou a lavar a cara de um Estado incompetente, provocador de desgraça e tragédia, neste pormenor dos incêndios.

…E o Estado não é um só Governo. Somos todos nós, também…

Mas esta postura de Marcelo, está muito, mas muito para além do político e presidente. Ela encarna e de que maneira, a postura do cristão assumido, que em atitudes de coerência com a sua fé, corre o país cumprimentado, abraçando e beijando quem sofre, quem chora e quem tudo perdeu. Quem perdeu a esperança no futuro.

E quem perdeu filhos, pais, amigos e outros a quem os liga o sangue da vida… e da morte.

Marcelo tornou-se, em tempo de desgraça e de tragédia nacionais, a luz ao fundo do túnel para uma boa parte dos portugueses. Talvez mesmo da maioria!

Obrigado Presidente…

Desculpe, porque o “burro”, afinal, fui eu!


António Rodrigues

22 de Outubro de 2017