O meu Pai é calceteiro.
Ainda muito jovem, veio do Pinheiro no concelho de Ansião, até Torres Novas e por cá ficou e casou.
É artista da pedra.
Foi assim durante 75 anos de trabalho.
Nasci e aprendi a vê-lo dobrado sobre si mesmo, com a dureza da profissão, a partir pedra e a calcetar.
Aquelas costas apanharam milhares de horas de sol, de chuva e de frio. A trabalhar no “duro” para o sustento da casa. Sem nada reivindicar e sem nada exigir.
Por aquelas mãos passaram milhões de pedras, para fazer calçada portuguesa. Para fazer arte; a arte dos pobres, mas arte.
Quando garoto, recordo-o a chegar a casa, na sua pequena motorizada Sachs Minor, cansado após oito horas de labuta, mas sempre com uma confiança que a todos nos transmitia. Nunca, mas nunca faltou ao trabalho, porque também a felicidade da sua saúde assim o permitiu.
Foi dobrado e de pedra na mão, que faz ferida e calos, que a todos nos educou e preparou para a vida.
Hoje, com 86 anos, saiu de sua casa, a 40 km de Torres Novas. Veio a conduzir a sua carrinha de trabalho. Nela trazia pedra de calcário e granito. E o seu martelo…, claro.
Veio à nova casa da sua neta mais velha, a Rita, para deixar no chão e para sempre oferecer, o símbolo da sua arte. Casa, com carga emocional bem expressiva, porque nela vivemos, entre os meus quatro e oito anos de idade. No tempo em que em torno dela só havia oliveiras e figueiras… e a eira do Barreirá… mistérios da vida, estas coincidências…
Chegou cedo e, passadas seis horas, com óbvio intervalo para o almoço, deixou à neta a pequena obra de arte, que as fotos revelam. E fê-la com carinho, ternura e vaidade, porque para a neta; a sua neta mais velha.
O meu Pai é assim: artista da pedra.
Homem de trabalho, o Sr. Acácio Rodrigues
Obrigado Pai.
António Rodrigues
27.09.2017
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