O transnacionalismo é um dos fenómenos sociais mais importantes e marcantes da nossa contemporaneidade. É de facto fascinante discutir temas tão importantes, tão profundos e acima de tudo tão actuais, ligados à mobilidade do ser humano e/ou da sua identidade cultural. E, se é verdade que temos a mobilidade interna como mais óbvia e normal, na relação interactiva das sociedades em cada um dos países, é, de facto, no fenómeno do transnacionalismo que encontramos a amálgama de valores e de processos integratórios que conduzem a exemplos de vida, quer individual, quer colectiva, de todo transcendental ao nível da problemática sociológica que foge, e muito, à lógica escolástica. Se é bem verdade que há muitos estudiosos, dos quais destaco um Castles, um Rui Pena Pires e o incontornável Boaventura de Sousa Santos, entre outros, fico sempre com a sensação de que eles, ou outros quaisquer ligados à temática, estarão longe de dominar a riqueza e a diversidade da globalização e do transnacionalismo que dela resulta. O que ela provoca?...
Daí ficarmos sempre com a sensação da riqueza – talvez pretensiosa – das nossas opiniões, porque elas acabam por resultar de um somatório de tudo o que estudámos, com o que conhecemos e, acima de tudo, com o que partilhámos com os colegas e com os nossos professores. Se calhar até produzimos “algum conhecimento” que seguramente a todos nos enriquecerá.
O transnacionalismo é, porventura, o maior e o mais antigo fenómeno social mundial, em que a dimensão da vivência humana tem maior pujança. No drama da vida ou na felicidade que ela pode oferecer… “vai, pensamento sobre asas douradas” esse fantástico tema da mais linda ópera jamais escrita e interpretada pelo Homem, Nabucco de Verdi, descreve toda a essência das migrações. Toda!
Não há migração sem pensamento, sem sonho, sem drama e sem felicidade. Este coro dos hebreus oferece-nos, em minha opinião, a expressão musical mais identitativa do fenómeno migratório; eles, hebreus, que são ainda hoje a expressão máxima da globalização… e das migrações.
“Vai, pensamento sobre asas douradas” foi o motor da nossa expansão marítima e, antes dela, dos milhares de barcos que cruzaram mares em busca da descoberta do comércio, ou, antes ainda, de novas gentes e novas culturas. Foi com as asas douradas do pensamento que milhões de seres humanos deixaram a terra que os viu nascer e onde tiveram os primeiros sonhos, em busca de novos sonhos, de novos pensamentos. Primeiro os nossos emigrantes, que demandaram as colónias de então e que as ajudaram, com virtudes e defeitos, a povoar e a socializar; mais tarde, os que demandaram a Europa rica do centro; hoje, de novo o regresso ao passado: África é o nosso destino. Timor o nosso poema.
Cada vez mais vivemos o sonho do transnacionalismo, seja em busca de trabalho e de melhor vida, seja para ir ao encontro da família e amigos, seja em busca de momentos em que sentimos que podemos ser úteis ao outro. Seja nos momentos de cooperação e solidariedade… seja em momentos de lazer que nos ajudam a melhor entender o mundo.
“Vai, pensamento sobre asas douradas” será sempre o mote da aventura que os homens e mulheres, actores das migrações, sentirão em busca da felicidade, muitas vezes perdida. Mas o drama é maior quando se regressa à casa “paterna”, na expectativa de regressar ao nosso torrão de origem e sentirmos, mais uma vez, que, afinal, quase somos estrangeiros no nosso país…
“Vai, pensamento sobre asas douradas”… vale a pena ouvir e pensar… e meditar.
Eis o pôr-do-sol, no país do sol nascente… no país poema, onde, segundo o Povo, Lorosae é a razão…
Em barco que liga Oe-Cussi (“aqui também é Portugal” – ainda lá está, algures, inscrito) a Díli, saquei esta este fantástico pôr-do-sol, na companhia de centenas de timorenses que naquelevelho casco demandavam a capital da sua pátria…
E nele, também a festa da vida, como este rebento de pais felizes…