A mais pequenina

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Princesa

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Câmaras de Ar?



O Livro Verde da Reforma da Administração Local poderá tornar-se num autêntico Livro Negro caso se venham a tornar Lei, as propostas apresentadas pelo Governo, as quais, na sua generalidade, contam com a bênção do Partido Socialista.

O PS de Sócrates não gostava das Câmaras Municipais e o PSD de Passos, segue-lhe os mesmos passos.
Mas a passos largos!

Nestas minhas páginas do Aqui & Agora abordei há umas semanas aquele que será, em minha opinião, um dos maiores erros desta Reforma: a extinção/aglutinação/anexação, chamem-lhe o que quiserem, das juntas de freguesia rurais.

Hoje, abordo outro erro profundo da proposta. A possibilidade da existência Câmaras Municipais de um só partido político.
As apelidadas de monocolores.

Ora, tudo o que é “mónó” exprime a ideia de um só, de uma só vontade, de uma só visão, em suma, exprime a unilateralidade.
Nada mais errado para quem tem que decidir sobre a coisa municipal.
Sobre a coisa pública.

A confirmar-se esta proposta governamental, repito, com a bênção das inteligências estratégicas do PS e PSD, estar-se-á, de forma clara e objectiva, logo sem demagogia alguma, a eliminar definitivamente todo o papel determinante que as Câmaras Municipais têm desenvolvido em Portugal, muito em particular no pós 25 de Abril.

Não adianta argumentar que as Assembleias Municipais terão mais e maior capacidade fiscalizadora e até interventiva, o que, obviamente, é positivo. Isso não será suficiente e de modo algum impedirá o esvaziamento de toda a capacidade auto-crítica, criativa e até decisória da Câmara Municipal, se ela vier a ser monocolor, politicamente falando.

Basta ver o que hoje se passa com as poucas autarquias em que democraticamente determinado partido ganhou todos os lugares da vereação.
Analise-se como são as reuniões, - quando existem - a sua cadência e o debate de ideias e opiniões nelas existentes. Se, no futuro, for este o caminho, estaremos perante um órgão político que perderá massa crítica, capacidade de debate, a presença de contraditório e, muitas vezes, em função da dimensão das decisões, sentir-se-á a ausência de oposição, para também a vincular ou não aos momentos determinantes da vida do município.

Na gestão municipal – e só nesta – faz todo o sentido a presença da oposição no órgão executivo.

Respeitem-se as maiorias absolutas conseguidas no acto eleitoral e respeitem-se os lugares conquistados pela oposição, independentemente da escolha dos vereadores poder ocorrer no seio da assembleia municipal.

Por outro lado, a redução drástica do número de Vereadores, associada à redução cega de chefias, - tudo previsto no tal livro – tornará os autarcas em autênticos funcionários do Estado.

A aplicar-se esta proposta, muitas Câmaras do país, poderão, perigosamente, ficar ingovernáveis…. seguramente que sim.

A este propósito, é agora conhecida a sugestão de um Professor Catedrático da Universidade do Minho que, percebendo, presumo, este risco de esvaziar a dimensão política das Câmaras, propõe a fusão da Assembleia Municipal e da Câmara num só órgão político.

Diz o Professor António Cândido de Oliveira que esta junção resultaria num novo e único órgão político, designado de Câmara Municipal, com mais vereadores e do qual o Presidente emerge escolhendo a sua vereação, para exercerem as funções Executivos…

Não contraria de todo o raciocínio que aqui expus e tem a vantagem da Câmara ter mais força e representatividade política, do que parece estar previsto no Livro Verde.

Desde que o Presidente seja eleito pelo povo, esta ideia do académico dá que pensar…


António Rodrigues
3.11.2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Francisca de Bubaque

Numa lancha rumámos a Bubaque, no fantástico e sereno arquipélago dos Bijagós. Para trás ficava a desesperançada, pobre e castigada Bissau, onde ainda marca presença e de que forma, o forte do “tempo português”.
Numa viagem de mais de uma hora, fomos percebendo o porquê de muitos dizerem que o paraíso é aqui mesmo.
Na Terra!

São às dezenas as ilhotas que emergem de um mar sereno e calão.
De um azul, que é azul!
Vislumbrámos e contornámos ilhotas onde imperam velhas cabanas embrulhadas em buganvílias de rosa vivo ou castanho bíblico, assentes na areia açúcar, tal a cor e suavidade do areal…

Nas cabanas, agachadas sob a sombra de árvores de maior porte, dependuram-se cachos gigantes de bananas, que desafiam uma paragem. E, com ela, o deslumbre do mar que se perde, salpicado de estrelinhas cintilantes, que o sol, espraiando-se na pequenina ondulação, inventa.

Afinal, entrámos numa fantástica reserva da biosfera, assim classificada pela UNESCO, composta por 88 ilhas, todas elas de encantos indescritíveis.

Chegámos a Bubaque!
Ilha grande e de denso arvoredo.
Aguardavam-nos a curiosidade de muitas e muitos que raramente por ali vêem caras estranhas e, muito menos, de brancos do Portugal….
Para eles, a festa da recepção e o aplauso fácil.
Uma espécie de regresso ao passado, ali, por alguns, tão desejado…
Para nós, o choque do que se vê. E de quem se vê…

Lojas que o não são mas que merecem esse nome. Armazéns do nada, sujos e desarrumados, com montes de lixo e lixo aos montes.
As casas, que já o foram e das quais resta o esqueleto salpicado de cimento, têm como cobertura, zinco aquecido e pelo sol escaldado.
As crianças, sempre elas, pobres mas muito sorridentes e sem cansarem de correrem ao lado dos visitantes….foram a nossa guarda de honra.

Homens e mulheres saúdam-nos e fazem cortejo atrás de meia dúzia de almas espantadas com a recepção. E os régulos, que pouco mandam, num arquipélago onde, para alguns, quem manda são elas(1) , fazem-nos as honras oficiais da recepção. Eles bem sabem que a comunidade tem muito de matriarcal e não se esquecem que alguns já ficaram à porta com o saquinho da tradição…

O calor abrasava e deixava que o vermelho de uma terra ressequida e poeirenta, se evidenciasse.
Caminhos largos, árvores gigantes que os ladeiam, com curvas suaves que mais além nos transmitem imagens genuinamente africanas, enchem-nos a alma de sonhos perdidos.
Com eles convivemos e por lá almoçámos, num ambiente sempre aberto e franco.

Estávamos dentro da barcola na preparação do regresso.
O povo, um pouco mais lá em cima, acumulava-se para a singela despedida com aceno frenético de um adeus para sempre. De repente, no meio da chusma, alguém insistentemente gritou para que não arrancássemos. O motor desligou-se.

Uma jovem mulher voava sobre a cabeça do povo, de braços abertos e pés descalços.
Bonita e serena!

De pano enrolado em cabeça acarapinhada,
ficou espojada num chão de barco de base milimétrica.

Sentadas, mãe e filha acomodaram-se.
E naquele peito de mãe, se encaixou o corpo dorido da filha…
entre as pernas da futura avó, a nova mãe encontrou conforto e amparo para a loucura que se avizinhava..
Estava grávida!
Em trabalho de parto. E já havia alguns dias.

O motor roncou e o barco voou.
As estrelinhas cintilantes amaciaram o bater daqueles corpos de mulheres.
De Mães.
Que não se ouviam e, no meio de tanto homem, quase pediam desculpa da boleia que apanharam.
As dores de quem ia parir, só no aperto das mãos de quem a acarinhava, se sentiam.
Tamanha dignidade, tamanha dimensão do saber sofrer, sem nada protestar.

E foi uma hora até Bissau, sempre na expectativa de que o parto acontecesse em pleno mar dos Bijagós.

Uma carrinha velha a que chamaram ambulância, arrecadou a jovem e estóica mulher deitada na maca, também ela gasta pelo tempo e pela pobreza.
Deste cenário fica-me a memória do pé descalço, símbolo de uma feminilidade que não tem cor e de um encanto maternal que é mistério.

Já no hotel, ainda não passada uma hora, soubemos que uma menina nascera.
Uma menina.
A 6 de Março de 2010.
Vibrámos, pois com a brutalidade da viagem, pareceu milagre tudo estar bem.
Mãe e filha.
No outro dia, com o Paulo Braga, quisemos ir à maternidade. No caminho disseram-nos que não. Que não fossemos, pois mãe e filha haviam saído para casa de familiares.

Que pena!
Não as veremos.
E não as vimos, pois o avião para Lisboa seria um pouco mais tarde, e uma visita nossa poderia ser descabida.
Num jantar apressado, e porque souberam da nossa preocupação, recebemos um telefonema da família.
Da avó que agradecia a simpatia e boa-vontade.
Fizemos o que tínhamos que fazer e vieram os agradecimentos e o pedido:
Por favor, dê o nome à minha neta!

Que seja Francisca!
Para mim, Francisca de Bubaque, para ser diferente da Francisca que lhe oferece o nome.

E fica este escrito, na esperança de que estas coisas da internet, permitam que o contacto com a Francisca de Bubaque se retome…

Porque as Franciscas deste mundo merecem…

António Rodrigues
25 de Outubro de 2011




(1) Segundo Raul Fernandes, as pessoas confundem o matriarcado e a matrilinearidade; que são duas coisas distintas. O que acontece na sociedade Bijagó é que as filhas, mesmo depois de casadas, permanecem próximas das mães porque quem atribui estatuto de família é a mãe pela linha uterina (matrilinearidade). Esta ligação é mais forte entre a mãe e a filha visto que, diferentemente do que acontece na patrilinearidade - onde as mulheres a partir do momento em que se casam saem do seu círculo familiar original e passam a ser membros da família do marido, sujeitas às regras da casa do marido –, a filha não se distancia muito da sua mãe.


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Que caiam os anjos!

Com o beneplácito do PS e do PSD, Portugal poderá estar a viver a antecâmara da destruição de um dos seus patrimónios imateriais mais pujantes da sua história: as freguesias.

Dir-me-ão que é exagero porque serão só algumas.


Mesmo algumas, tal decisão sairá cara ao País.


Muito cara.


Ponto de partida para esta aventura: imposição da Troika, que exige que façamos, a troco de dinheiro, o que no passado fomos incapazes de fazer, de livre vontade: rentabilizar ainda mais o funcionamento das autarquias. E exige, no ponto 4.3 do referido Memorando dedicado ao Poder Local, a reorganização dos governos locais, com a redução expressiva das entidades em causa: municípios e freguesias.Significantly reduce the number of such entities”, está lá escrito


Mas não é isto que está proposto e em debate.


Foi mais fácil a ambos os partidos atacar o “elo mais fraco”: as freguesias. Será mais fácil ao parlamento acabar com freguesias de quatro, cinco ou mesmo seis mil habitantes, que acabar com um ou dois municípios como dois ou três mil habitantes cada… Este o cinismo, esta a falta de coragem.

Ora isto, para além de profundamente errado, pode virar tragédia. Sem exagero: tragédia!


Porquê?



Porque, se de facto faz sentido reduzir significativamente as freguesias dos centros urbanos, muitas delas autênticas redundâncias face ao Executivo Camarário, já nas zonas rurais a situação exige muito, mas muito cuidado.



Nestas coisas não pode haver régua nem esquadro.

Acabar com uma freguesia rural, seja ela qual e onde quer que seja, será, em muitos casos, retroceder ao tempo da paróquia. A um tempo em que, na ausência do Presidente da Junta, se recorre ao Pároco, como acontecia neste país antes de 1916… Nada tenho contra estes, mas tudo tenho contra a ausência do Presidente da Junta.


A relação próxima do Presidente de Junta, em particular nas zonas rurais, traduz-se cada vez mais, na essência imaterial da riqueza primeira do Poder Local que Abril ofereceu…


Acabar com esta relação de proximidade, que se traduz no conforto e no acompanhamento que se oferece ao freguês, em particular nos seus momentos mais difíceis, nada tem a ver com a “reinvenção do espírito republicano” de que falava o Presidente da República nas comemorações do 5 de Outubro. Que PS e PSD elogiaram…

Ora isto nada tem de reinvenção, antes de matança do verdadeiro espírito de um regime que se quer próximo das pessoas, em prol das pessoas e pelas pessoas.


É cínico falar da despesa das autarquias, sempre “bombos da festa”, quando os governos assobiam para o lado, varrendo o seu próprio lixo para debaixo das secretárias… das suas secretárias.


As juntas de freguesias gastam pouco, muito pouco.

Mas fazem muito.

Muito e com pouco!

Acabar com elas


será, na grande maioria, acabar com o apoio às colectividades, ao folclore, ao teatro, à musica, ao artesanato, à promoção de produtos locais, muitas vezes sustento de muitas famílias.



Acabar com elas,

Será, na grande maioria, acabar com uma identidade colectiva, que se forjou com a história e esta com aquela, em memórias que saltitam de geração para geração.


Acabar com elas

será “destruir” pedra a pedra equipamentos colectivos que homens e mulheres, com sangue suor e lágrimas, construíram para um futuro melhor das suas aldeias. Fora de horas e aos fins-de-semana, no entusiasmo da força colectiva e dos valores da solidariedade, ergueram o que Lisboa não podia erguer, mas que hoje quer derrubar…


São estes os valores de um Povo que, de geração em geração, soube erguer e construir o seu futuro.



Estes valores imateriais não chegarão aos odores políticos e pestilentos de um parlamento, em que muitos deputados, contra a sua vontade, terão que levantar o braço para votar contra a freguesia que os viu parir e que, nos corredores da fama e do poder efémero, a ignoram para a sua sobrevivência política, quais personagens rurais de um Camilo na sua “Queda de Um Anjo…”



Que caiam os “anjos” mas que se mantenha a história e com ela a nossa memória.



Será pedir muito?


António Rodrigues


10.10.2011


domingo, 2 de outubro de 2011

500 - 100 - 10 - A Lição de Xanana

Foi na Aula Magna da Reitoria que Xanana se reencontrou com os seus compatriotas residentes em Portugal. E com os amigos de cá, que são muitos.


Foi apresentado um projecto global de desenvolvimento para todo o território timorense, pairando no ar a sensação de se estar a testemunhar algo de muito invulgar: a construção de um país a partir do quase nada…

E de se estar perante um Povo que, devagar devagarinho, mas bem, constrói o seu futuro, saboreando ao mesmo tempo a sua paz sagrada, como gostam sempre de realçar.


Pedra a pedra, degrau a degrau, assim evoluem. E é impressionante a forma como o fazem. Com serenidade, com planeamento e, quem diria, com dinheiro.



E Xanana falou. Uma hora!

E todos o ouviram num silêncio contador de moscas.

Com o seu característico tom de voz, arrastada, mas firme e convicta. A um dado momento, disparou:

…No próximo ano, comemoraremos em Timor, os 500 anos da entrada dos portugueses.


Esses mercadores aventureiros que por lá aparecerem. Esses mal vestidos e dominadores que nos encontraram quase nus perdidos naquelas montanhas sem fim…

E Xanana, que mais parecia brincar, abordava de uma forma séria e muito diferente da que estamos habituadas, a questão da nossa histórica presença colonialista. E dirigiu-se aos amigos portugueses:

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Não pensem, - dizia - que a coisa foi fácil, porque tudo fizemos para correr convosco… ora andávamos amigos, ora tínhamos revoltas e zangas por causa dos abusos de alguns dos colonos… e a maior de todas, contra a vossa presença, ocorreu precisamente em 1912. Foi a revolta de Manufai que provocou a morte a milhares de timorenses.


Para o ano comemoraremos os 100 anos dessa luta pela libertação.

Graças ao apoio de muitos – continuava – e, em particular dos nossos irmãos portugueses, fomos heróis e combatemos a ocupação indonésia. E conseguimos! Com mortes, dramas, sangue, suor e muitas lágrimas, mas conseguimos! Por isso, hoje somos independentes.


Em 2012, comemoraremos 10 anos de independência. E sorria, dizendo, só 10 anos?!


Mas independentes!

Ou seja, no próximo ano faremos três comemorações: os 500 anos da vossa chegada, os 100 anos da nossa revolta e os 10 da independência.


Xanana, de forma inteligente, comemora a história, assumindo-a. Valoriza a presença portuguesa, sem esquecer as ofensas ao povo maubere, marcada de forma dramática com a trágica revolta de Manufai.


Mas é graças à presença portuguesa que hoje somos independentes. Estamos inseridos num universo territorial de 17 000 ilhas, e só metade da nossa é independente. Sabem porquê?


E Xanana explica.


- Há uns meses, em Díli, numa reunião onde participei, um velho indonésio, volta e meia, batia com o punho na mesa e exclamava zangado: Portugal!

E repetiu a cena várias vezes, acabando sempre com a expressão mal-humorada, Portugal! Portugal! o que me obrigou a perguntar-lhe: oh homem, diga-me lá o que tem contra Portugal, para estar para aí tão zangado?

O que tenho? - respondeu o velho, - é muito simples. Se os portugueses não tivessem abandonado as Flores, hoje também seríamos independentes, como Timor. Quer que eu esteja satisfeito?


Eis como, se não fossem os portugueses, hoje não seríamos independentes, rematou Kay Rala Xanana Gusmão, o Moisés de Timor, como o assumiu D. Basílio do Nascimento.


E foi num ambiente de esperança e sincera amizade que mais uma vez reencontrei e abracei este amigo, que em tempos me confiou um dos elementos mais importantes da sua Lulik (Casa Sagrada)


António Rodrigues

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Perdoado seja!

Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus, VII: 1-2).

Exactamente isto que os católicos professam e procuram incutir ao próximo. E bem!


D. Policarpo disto se esqueceu e foi por aí acima e julgou de uma forma arrogante toda a classe política portuguesa.

Segundo ele, ninguém sai da política com as mãos limpas. Ou seja, ninguém é honesto! E, se são todos, como afirmou, o epíteto a todos a abrange, desde o mais alto magistrado da nação ao mais simples autarca de freguesia.


Ora isto é grave. Muito grave, vindo de onde veio.


Assim não!


Gostaria o prelado, que em contexto idêntico, se afirmasse que todo o clero católico não tem a alma limpa?

Um clero que ultimamente ocupa parte do seu tempo a lamber as feridas das asneiras de alguns, que não podem nem devem comprometer o todo, e que volta e meia, obriga a consecutivos envergonhados pedidos de desculpas?


Foi infeliz a afirmação, mas tornar-se-á desgraçada, se o chefe da Igreja portuguesa, não emendar a mão e perceber que é feio julgar os outros.

Exactamente as postura que o próprio já aconselhou nas suas homilias.

Porque no melhor pano cai a nódoa, só me resta esperar que Deus lhe perdoe…



António Rodrigues

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Enganados com lágrimas

Continua por resolver a situação dos médicos enganados.

Que vieram da Costa Rica, com força e vontade de ajudar quem os chamou.

Vieram para trabalhar e, de certo modo, cooperar. Nem trabalham, nem cooperam.

Sendo jovens, sentem-se – como dizem – reformados.

Recebem sem trabalhar!

Sentem-se inúteis e, mais do que isso, enganados.

Num país que se debate com falta de médicos, - por isso vieram – ter estes homens e mulheres parados e a receberem o seu vencimento, para além de uma ofensa à dignidade dos próprios, é também um insulto a todos os que sentem na pele os sacrifícios que a crise impõe. Os utentes, que tanto reclamaram a vinda destes médicos, não percebem a situação e já os julgam, injustamente, de turistas.

Se houve, quem no passado recente decidiu mal, urge agora resolver bem.

Não fez sentido manter esta situação por tempo indeterminado. E, muitos menos, serem estes profissionais, vítimas de eventuais retaliações políticas.

Como foi possível contratar estes técnicos de saúde, se entre os dois países não há Convénio de Reciprocidade?

Quem é ou são os responsáveis por este embuste político?

Exige-se respeito!

Em primeiro lugar, porque são pessoas, afastadas da família e de amigos, que não merecem, de modo algum, este tratamento a que estão sujeitos.

Em segundo lugar, pelas populações às quais foram criadas expectativas de verem os seus problemas de assistência médica resolvidos.

Em terceiro, não sendo fortunas, estão em causa dinheiros públicos esbanjados, com conhecimento de quem manda e tem obrigação de decidir; nem que a decisão seja o regresso digno deste enganados.

Enganados com lágrimas, como há dias presenciámos.

Um deles, não as conteve, em sinal de revolta.

E de espanto!

E de saudades!

Da família e do país, que os formou médicos.

Para trabalharem!



António Rodrigues


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Malaca - 500 anos



Para alguns poderá ser insignificante que, ante ontem, se tenham passado 500 anos em que nós, os portugueses, tomámos Malaca.


Foi a 15 de Agosto de 1511.


Na linguagem de contexto histórico é assim que se deverá escrever, sem complexos e sem traumas. É precisamente por causa dos complexos e dos traumas em torno da nossa História que, vá lá saber-se porquê, se instalou após a Revolução, que esta data passou despercebida a quase toda a gente. Aliás, como outras ainda mais importantes.


Perguntar-se-á se é assim uma data tão significante para ser recordada?


Claro que é?


Num país em que tudo se comemora, recordar este feito determinante para a expansão marítima portuguesa não seria descabido, antes factor de exaltação dos feitos da nossa gesta marítima.


“Lá no grémio da Aurora, onde nasceste, opulenta Malaca nomeada[1], assim Camões a cantou nos Lusíadas, não só pela sua beleza natural mas acima de tudo pela sua importância de base estratégica, na presença portuguesa no Oriente. Aliás, foi de lá que as naus portuguesas “desceram” mais para sul, até à ilha de Timor, em busca do sândalo. Para alguns historiadores, ali terão chegado por volta de 1512, para outros, 1513 ou mesmo 1514. Estou mais inclinado para a primeira hipótese.


“…Afonso de Albuquerque foi, não só, o verdadeiro fundador do “império” português na Ásia, mas também a melhor garantia da sua permanência. Em pouco mais de seis anos, ancorara os Portugueses no oceano Índico oriental pela conquista de Malaca (1511), controlando assim o tráfico marítimo com o Pacífico; impusera a autoridade e suserania portuguesas sobre Ormuz, dominando o golfo Pérsico (1507-15); e estabelecera uma base territorial para a sede da administração portuguesa pela conquista de Goa (1510)”.[2]


É neste contexto explanado por Oliveira Marques que se deve entender a importância de Malaca para suserana presença das forças portuguesas numa lógica dominadora de todos os mares do oriente. Presença que se manteve até 1641…


Seguramente, quero acreditar, que terão havido excepções, e esta data terá sido lembrada e devidamente reconhecida, aqui ou acolá; mas a verdade é que não foi notícia, num país em que tudo é notícia, mesmo os casos mais escabrosos e destituídos de qualquer interesse, que não seja o comercial.


E Malaca, nos dias de hoje, apesar de tudo, continua a recordar Portugal.


Lembremo-nos do velho Bairro dos Portugueses, onde ainda se fala português. O velho português como gostam de lembrar. E em língua lusa rezam, muito em particular nas missas, algumas delas celebradas em antigas garagens. E persistem, para além das igrejas católicas, ruas com toponímia portuguesa e, mais importante ainda, a velha fortaleza “A Famosa”, construída pelos lusos navegantes, onde ainda impera a lendária Porta de Santiago. E, sem raiva, os “portugueses” de Malaca lamentam que os portugueses deles se tenham esquecido, não deixando, no entanto, de organizar todos os anos as festas de S. João e de continuarem a ouvir o fado.


Apesar de tudo, é justo lembrar que, com o apoio do Instituto de Camões, há crianças em Malaca a aprender a língua portuguesa…


É bom, também por isto, lembrar Malaca!


Pelo que ela simboliza e pela importância que tem na nossa História.


Fica 148 km a sul da capital da Malásia, Kuala Lumpur, e é desde 2008 Património Mundial da Humanidade.




António Rodrigues



17 de Agosto de 2011








[1] Os Lusíadas, X, 44



[2] Marques, A. H. Oliveira – Breve História de Portugal, Editorial Presença - 6ª Edição, 2006 – pág. 212

sábado, 13 de agosto de 2011

Hino à Memória

Desgosta-me que a esmagadora maioria dos portugueses não conheça a sua História. Que ela não seja devidamente estudada e, até, em alguns pormenores, exaltada pelos nossos alunos e pela Nação.

Um povo que não conhece o seu passado, tem dificuldades em ultrapassar os problemas do presente e desacredita no futuro.


No pós 25 de Abril, a história de Portugal, foi renegada de forma estranha, em boa parte dos currículos escolares. Momentos houve, que mais parecia ter-se vergonha dela.

Nenhum governo, à excepção do actual, (ainda não houve tempo) deu ao ensino da História o lugar e a importância que ela justifica. Como é possível moldar-se a identidade de um povo, sem que este tenha conhecimento cabal das suas raízes históricas?


Dizia, o ano passado, o embaixador do Japão em Portugal, em entrevista ao jornal Expresso, não entender como era possível os portugueses não estudarem nem aprofundarem a sua história. No Japão, dizia então ele, os alunos estudam a importância da presença dos portugueses, no séc. XVI, naquele país. Dizia, também, nessa entrevista de Julho de 2010: “estão a perder a vossa memória.”


Podemos perder a memória, mas a nossa História, jamais será apagada.

Vale a pena ler, de seguida, o extracto que ousei transcrever, da autoria de um austríaco (!!!) que escreve assim sobre os portugueses:


“Seja como for: o feito decisivo está concluído. Pela primeira vez foi finalmente possível determinar com exactidão o perfil geográfico do continente africano, pela primeira vez comprovou-se e demonstrou-se, contra Ptolomeu, que se podia chegar à Índia por mar. Na geração que se seguiu ao infante, os seus pupilos e herdeiros tornaram realidade o sonho da vida do seu mestre.

É com assombro e inveja que o mundo volta agora os olhos para este pequeno povo de marinheiros que havia passado despercebido no canto mais recôndito da Europa. Enquanto as grandes potências – França, Alemanha, Itália – se dilaceravam em guerras absurdas, Portugal, essa gata-borralheira da Europa, tinha alargado mil, dez mil vezes, o seu espaço vital; por muito que se esforcem, já ninguém conseguirá pôr em causa este imenso avanço. Da noite para o dia, Portugal tornou-se na primeira nação marítima do mundo, conseguindo garantir, com o seu esforço, não só novas províncias, como também mundos inteiros. Uma década mais tarde, a mais pequena entre as nações europeias irá reivindicar a possessão e a administração de mais área terrestre do que a ocupada pelo império romano na época da sua maior expressão.


… Mas o heroísmo é sempre irracional ou anti-racional; sempre que um homem ou um povo se lançam numa aventura que ultrapassa os seus limites efectivos, também as suas energias aumentam até atingirem um nível nunca antes suspeitado: talvez nunca nenhuma outra nação se tenha unido de forma mais primorosa num único momento de vitória como o Portugal de finais do século XV: de repente, o país não criou somente o seu Alexandre, os seus Argonautas, em Albuquerque, em Vasco da Gama, em Magalhães; criou também o seu Homero, em Camões, o seu Lívio, em Barros. De um dia para o outro, estavam lá os sábios, os construtores, os grandes comerciantes: tal como na Grécia de Péricles, na Inglaterra de Isabel, na França de Napoleão, um povo concretiza, de forma universal, a sua ideia mais íntima e apresenta-a, enquanto feito visível, a todo o mundo. Durante aquela inesquecível hora terrena, Portugal é a primeira nação da Europa, guia da humanidade.”[1]


Seria tão bom que muitos lessem isto!


E, porque não, também os da troika?





[1] Zweig, Stefan – Magalhães, o homem e o seu feito – Assírio & Alvim, Março 2007 – pág. 29 a 31



























sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Médicos com Fronteiras




Vieram com entusiasmo.


Para Torres Novas e outros concelhos da região.


Tudo foi bem divulgado, porque finalmente uma parte das populações concelhias voltaria a dispor do seu médico de família.


E vieram médicos da Colômbia e da Costa Rica. Jovens com entusiasmo a quem foram exigidos exames para a “equivalência de competências”. E fizeram-nos!


Os jornais divulgaram e as populações sentiram que, uma parte do seu problema, estaria resolvido. Por isso, a iniciativa foi aplaudida.


Nada mais falso!


Quando no dia 5 deste mês se tentou fazer o ponto da situação e saber como estava a evoluir a vida social e profissional destes médicos, a surpresa foi total:


Ainda não trabalham, já lá vão três meses.


Apesar do Estado português lhes pagar o vencimento, os médicos sentem-se enganados e sentem-se mal. Receber sem trabalhar não consideram que seja sensato e justo, o que é natural. E desesperam para que venha uma solução.


Ao que parece, não haverá “Convénio de reciprocidade entre Portugal e Costa Rica”.


A ser verdade, porque não se acautelou previamente a questão?


A ser verdade, porque partiram dos seus países, sem estarem devidamente informados e esclarecidos de todos estes problemas.


E porque não foram as restantes entidades envolvidas no processo, informadas de tudo isto?


Na verdade, pura e dura, brincou-se de forma leviana com muita gente, em especial com os próprios médicos. Que se sentem, sem o quererem, turistas à força num país que os chamou para ser médicos.


E que o são, mas com fronteiras…



António Rodrigues

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A gravata

Estado de graça? Sim, é normal.

Aliás, é desejável que se mantenha, porque seria sinal de que a governança do país irá no bom caminho.

E, para mim, o País é o que conta; primeiro que tudo.

Há demagogia?

Claro que há.

Ela, infelizmente, faz parte do jogo político, e é directamente proporcional ao estado de graça de quem a usa. Convém, no entanto, que não se abuse.

O desejo que temos de ver o nosso País sair do estado em que se encontra, desejo sincero, porque temos a obrigação de deixar algo de bom aos nossos vindouros, sejam os filhos sejam os netos, não nos pode, no entanto, retirar o nosso sentido crítico.

Todo este estado de espírito torcendo para que tudo corra bem, também não nos pode inibir de nos rirmos e espantarmos com alguns comportamentos. Desde logo, o de alguns comentadores, quais vacas sagradas deste país, quais sumidades raras, superiores ao comum dos mortais que nos vão governando.

Como eles mudaram de opinião tão depressa.

Sempre que, há uns meses atrás, uma agência nos desvalorizava financeiramente, lá vinha o fado do ataque a Sócrates, às suas mentiras e à sua má governação.

Veio a troika, abençoada pelos maiores partidos e, com ela, impuseram-se aumentos de impostos e cortes no subsídio de natal. Mais, ao que parece, do que tinham exigido os credores; mas, nem por isso, uma agência dessas que atrás referi, nos deixou de considerar lixo. Como já não há Sócrates, mas há estado de graça e seria injusto acusar o actual governo, o problema agora já não aquele, antes o ataque ao euro e os interesses subterrâneos em proteger o dólar. O incompetente deixou de ser o ex-primeiro, para passarem a ser também as agências de rating.

A volta que isto levou, meu Deus.

Mas se isto incomoda, muito mais incomoda que a RTP, na abertura do telejornal, tenha pela boca de Rodrigues dos Santos, lançado a bomba logo na primeira expressão da noite: SOMOS LIXO.

Primeiro, pensei que a frase faria sentido, pois julguei que o homem se estava a referir à generalidade dos programas que as televisões não vão impingindo. E, como era uma afirmação na televisão…

Afinal, enganei-me. O lixo seria o país e, com ele, todos nós. Por causa da tal agência que assim nos classificou.

Foram poucas as vozes que se insurgiram contra esta ofensa.

Mais do que isso, o termo pegou porque agora, quando se quer criticar qualquer assunto de forma muita negativa, poupa-se nas palavras: é lixo.


Por falar em poupar, hoje fiquei encantado porque uma ministra do governo da nação, que dispensou os seus assessores de usarem gravata, pelo menos no verão.

E porquê? Para se poupar no ar condicionado! Diz a governante.

Faço votos que tudo corra bem, caso contrário, corre o risco de gastar em perfumes o que poupará com a ausência de frescura.

Santa demagogia, que tem honras de primeira página de jornal e atesta quão bom viver em estado de graça.

Aproveitem e que perdure por muito tempo.

Seria bom sinal.

António Rodrigues

14.07.2011

sexta-feira, 24 de junho de 2011

MULHERES

Não votei para este governo.

No entanto, o momento que se vive não é para qualquer tipo de brincadeiras e, muito menos, disputas partidárias.
Este governo não pode falhar porque, se tal acontecer, é o país que falha. É o futuro próximo dos nossos filhos e netos que está em causa.


E eu gosto muito mais deles, do que de qualquer partido.

Por isso, não sendo um apoiante político deste governo, espero e desejo que este grupo de jovens neoliberais que compõem a actual equipa governativa, consiga resolver o problema grave que o país atravessa.


Estamos numa fase, a de arranque da nova governança, em que é lindo assistir à fantástica dose de demagogia que nos tem sido oferecida pelos actores da vitória.

Paradoxalmente, percebe-se que assim seja.


É a euforia do estado de graça e o entusiasmo próprio de que tem vontade de andar para a frente. Vamos aguardar o que para aí vem…


Mas o espantoso, é que o que era encenação e teatro de Sócrates, o tal do mau feitio, nestes, de bom feitio, tudo é natural e exemplar. De tal forma que, a mesma comunicação social que detestava o teatro socrático, adora agora estas cenas que parecem enriquecer a qualidade governativa dos recém eleitos.

Mudam-se os ventos, mudam-se os comportamentos.

Falemos das Mulheres.

1ª Ana Gomes

Não gosto nem nunca simpatizei com Ana Gomes.


Mas ela, a tal que hoje é desbocada, foi heroína no tempo de Sócrates. E assim o foi, para a comunicação social, qual Joana d’Arc , precisamente porque atacava o seu próprio partido.

Atacava Sócrates.

Que mulher de coragem, de grande lucidez e sentido de Estado, escreviam e diziam então, os mandantes opinião publicada portuguesa.

A mulher continua a ser a mesma desbocada de sempre. Mas pobre dela, esqueceu-se que mudaram as regras. Abriu a boca, qual desbocada invertebrada, para criticar um membro do actual governo e os mesmos que a considerava heroína, quase a desancaram e mandaram calar. E passou a ser uma desbocada que, parece, d’ora em diante melhor se cale para sempre.

Claro que exagerou no que disse, mas também exagerou no passado recente quando atacava Sócrates.

2ª Laura Ferreira

Foi bom, em minha opinião, ver um primeiro-ministro ladeado da mulher, Laura, na vitória e na tomada de posse.

Não é obrigatório, nem isso fará do homem melhor ou pior político. Mas é bom que, com estes gestos e comportamentos, se reforcem sinais de família e, acima de tudo, o papel importante que pode e deve ter a mulher do primeiro-ministro, em acções colaterais às do próprio governo.

Para alguns poderá esta posição ser conservadora.

E é mesmo.

Porque defendo a família e, ainda, pelo simples facto de me conservar admirador de mulheres e, simultaneamente, defensor do papel activo que todas elas devem ter na sociedade portuguesa.

Gostei


3ª Assunção Esteves

Mas o melhor foi, de facto, a eleição da Presidente da Assembleia da República.

Que rasgo de magia política.

De uma assentada, anularam a trapalhada da não eleição do sr. Nobre e colocaram na cadeira da presidência do parlamento, uma mulher nobre.

Mulher tão bonita quanto inteligente.

São acertadas estas renovações, que limpam algum “cinzentismo” que pairava na nossa vida política e dão lugar à frescura de novas imagens, para o nosso imaginário colectivo.

Não só gostei, como me emocionei com a eleição desta mulher, com a sua intervenção e com a quase unanimidade de aplausos que o parlamento lhe ofereceu.


Coisa tão rara!

Foi bom. Muito bom.

Finalmente temos uma presidenta.


António Rodrigues


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Suprema Humilhação


A suprema humilhação política para o nosso país, foi-nos oferecida numa bandeja de barro pela tal troika de que tanto se fala. A que mandou gente para Portugal e que, em três semanas, impôs à outra troika (PS; PSD E CDS) aquilo que estes, durante anos nunca quiserem assumir. Teve que vir gente de fora, que trabalhando no duro, apresentou medidas que há muito se percebia – umas mais que outras – teriam que acontecer.



É uma imagem triste.


Chumba-se o PEC IV, com o pretexto que depois dele viria o V e o país não aguentaria. Como também disse Cavaco no discurso da pré-demissão do governo, aquando da sua tomada de posse.


Afinal de contas, a troika impôs muito, mas muito mais, do que previam todos os PEC’s juntos.


E, aqueles que o chumbaram, vão cordeirinhos aprovar e assumir as medidas da troika.


Fiquem descansados que se formos governo, nós cumpriremos.


O PS fez coro e disse o mesmo. Ou seja, todos a assinaram a cartilha da nossa incompetência e falta de coragem política. Todos assumiram, preto no branco, que sem a troika, as medidas de coragem para Portugal recuperar, não seriam conseguidas sem imposição do exterior. Porque, quem está no poder, tem sempre a oposição do outro, ou dos outros… independentemente de quem governa e de quem é oposição.



E para que servem os debates que antecedem o acto eleitoral que aí vem?


Para nada!


Tal como os deputados que vão para Parlamento que não vão servir para nada. Ou por outra, vão servir para levantarem o bracinho para votarem o que decidido está.


Ao que chegámos! …


Tudo está decidido e tudo tem que ser cumprido.


Não há margem de manobra. Ou então não haverá dinheiro…


O que me espanta é que nas medidas da troika ninguém escreveu uma palavra para se acabar com os Governos Civis.


Ninguém escreveu uma palavra para acabar com as Assembleias Distritais.


Ninguém escreveu uma palavra para se acabarem com ordenados de dezenas de milhares de euros mensais verificados nas empresas públicas, muitas delas falidas. Uma vergonha que só não incomoda (ao que parece) quem os recebe.



Ninguém escreveu e ninguém aborda esta questão nos debates. Porquê?


Não me choca o fim previsto de algumas pequenas freguesias, que a troika impôs e que eles assinaram.


Mas choca-me muito mais, que o Presidente da EDP, entre outros casos escandalosos, ganhe mais num ano (3 milhões de euros) do que todas as Juntas de Freguesia que irão ser extintas gastariam juntas em todo um mandato de 4 anos.


Demagogia? Não!


Vergonha! Sim!


E outra forma de humilhação.



António Rodrigues


13 de Maio de 2011