A mais pequenina

A mais pequenina
Princesa

sábado, 19 de março de 2011

Não brinquem mais com o Povo


É vergonhosa a situação política e partidária que se vive no país.

Começa a ser revoltante a forma como se joga o xadrez do poder, tendo como tabuleiro toda uma população que anda farta deste tipo de actores políticos. Ou, pelo menos, de alguns deles. E, como na vida, neste jogo quem se trama é o peão.

Quando o país chega ao que chegou, e os dois maiores partidos políticos não se entendem, quando eles são os principais responsáveis da governação no pós 25 de Abril, então é quase certo que não se pode sonhar com o entendimento tão necessário e desejável, quanto mais grave é a situação social e financeira de Portugal. Quando se diz que os mercados, para baixarem os juros, exigem medidas duras e de austeridade, interrogo-me muitas vezes se um entendimento político em Portugal e uma consequente governação mais serena, não seria, também, o antídoto de excelência para a tal redução dos juros.

Mas não há entendimento e quem suporta os juros que se pagam, são os impostos que todos, ou quase todos, suportamos.

E, neste gravíssimo desentendimento político que vivemos, é também preocupante que o país tenha perdido, uma voz que procure o entendimento. Quando seria de prever que o Presidente da República viesse a ser factor de união e de conjugação de esforços na busca de algum entendimento estratégico para Portugal, eis que assumidamente se demitiu desse desiderato. Rompeu essa postura no discurso da sua tomada de posse.

É penoso viver num país, em que parece que o único que puxa por ele, é o primeiro-ministro. E tudo o que o homem faz, tudo, é mal feito aos olhos da oposição. O mesmo acontecerá, quando um dia outro vier para o seu lugar. A nossa “cultura” é dizer sempre mal de quem governa. Mal da pessoa e mal da governação.

E estamos, também, encharcados de jornalistas e comentadores que, salvaguardando honrosas excepções, muitas vezes se confundem ora, no papel da oposição ora, no papel da justiça televisiva, tão primária quanto imbecil.

Mas seria bom que quem governa ou quem queira vir a governar, se lembre por uma vez, que povo que sofre e não tem emprego, não come nem colheres de liberdade e muitos menos pratos de dialécticas políticas, que hoje inundam e imundam a cena política nacional.

O povo que vive sem esperança e suporta as consequências da crise, não come colheradas de guerras partidárias e muito menos se auto-sustenta com a ambição dos que detêm o poder o querem manter e, muito menos, daqueles que não o tendo, não olham a meios para o conseguir.

O país está exausto de tanta conversa.

E de tanta discórdia.

Própria, é certo, de uma democracia, mas desadequada num país que vive a sua sobrevivência financeira, de mão estendida para o estrangeiro. Que também começa a ficar farto de nós… e que começa a dizer, falem menos e trabalhem mais.

Olhe-se para os juros e para o facto de sermos o quarto país no mundo que mais se endividou nos últimos 10 anos.

Lembro-me daquela menina goesa, Sandra Maria, que vivendo em Pangim, Goa, e falando-me num português impecável dizia: adoro Portugal.

E vê a RTP internacional. Gosta do Malato e do Preço Certo; “mas não vejo os telejornais porque vocês andam sempre zangados e a dizer mal do vosso país”.

E eu gosto muito de Portugal!

Dizia ela.

E eu também.

António Rodrigues

19.03.2011