Há dez anos estive lá.
Em
Tacitolo
Eram
aos milhares, centenas milhares.
O Povo de Timor comemorava a sua
dignidade e, por via dela, a sua independência. Segundo Matoso, na sua obra “A
dignidade de Konis Santana” foi essa a arma primeira do Povo Maubere na resistência
ao ocupante.
Vi e vivi a festa daquela noite.
Os choros da emoção e da saudade pelos
que deram a vida por aquela causa… ouvi as orações das crianças e dos adultos e
partilhei os silêncios envoltos no breu da noite, onde não chegavam as luzes
dos holofotes.
Vivi e chorei naquele 20 de Maio
quando a bandeira de Timor se desfraldou lenta e cerimoniosamente, ao som daquelas
femininas e celestiais vozes que entoavam o hino da primeira nação do século
XXI…
E estive com Xanana dias mais tarde.
Senti a serenidade de combatente e estratega
que levou Timor à vitória.
E, mais do que isso, deixei-me inundar
por aquele mar de humildade. A humildade dos grandes.
E voltei a Timor.
E voltei. E voltei...
Sempre com o privilégio de estar com
Xanana. Mais do que isso, trabalhar para aquele Povo a convite deste amigo
especial.
Foram bons e gratificantes todos
aqueles momentos…
Aquelas reuniões…
Aquelas conversas…
sempre com Timor com pano de fundo…
E voltei lá em Janeiro passado…
E estive de novo com Kay Rala Xanana Gusmão.
Duas horas…ou mais…
Para preparar novos trabalhos, novas
colaborações… qual gota do oceano que também pode ajudar a pensar o futuro.
E Xanana está diferente.
Muito diferente.
Mais e melhor conhecedor do que
pretende para o seu país.
Profundo dominador da sua estratégia
para Timor.
Como nunca, sabe o que quer e o que
pode fazer...
Para desenvolver a sua terra.
O homem que no passado recente conheceu
todos os cantos do seu país, porque os calcorreou no combate ao inimigo, sabe
hoje melhor do que nenhum outro, o que precisa cada um desses cantos para que o
Povo sinta que valeu a pena.
Xanana que foi estratega na guerra é
hoje um estratega na paz em busca do melhor para Timor.
Com uma particularidade:
Continua humilde. O humilde que fala
com os silêncios e que tem no olhar a expressão da palavra. Xanana que hoje mereceu o maior aplauso
da noite de Tacitolo, porque o Povo não esquece e Ramos Horta relembrou:
Xanana, o nosso irmão que nos levou à
vitória.
Obrigado Xanana pelo convite para hoje
voltar a Tacitolo.
Guardá-lo-ei na arca das minhas
melhores memórias…
Vi a festa pela televisão e também aplaudi
quando o Povo, em uníssono, te aplaudiu.
Como escreveu Richard Bach, “não há
longe nem distância” e, como há dez anos, emocionei-me.
Viva Timor Leste!
António Rodrigues
19 em Lisboa, 20 de Maio em Timor Leste