Desde o dia 23 de Março que as taxas de juros para os empréstimos ao Estado Português não param de subir.
Estavam na altura a 7,7%, para, nove dias depois se situarem muito próximo dos 10%. O rating da dívida da república caiu para níveis tão miseráveis que se aproximam da expressão mais desgraçada que (não) se pode dirigir a quem quer que seja, muito menos a um país: lixo!
Também ao nível da banca portuguesa esses mesmos índices já ouviram a mesma adjectivação: lixo.
Foi para o lixo que nos mandaram aqueles que, cada um com a sua quota-parte de responsabilidade, recusaram o PEC que e Europa nos impôs. Impôs a este governo e imporá ao próximo. E com agravantes.
É óbvio que a nossa soberania, pelo menos a financeira, já só existe no papel.
E quem vai pagar e sofrer com tudo isto?
Os do costume.
Aqueles de quem ninguém se lembra quando se tomam decisões que nos levam para o charco. Os que trabalham no duro e pagam impostos, sejam patrões sejam empregados. Os que trabalham sem grande esperança no futuro melhor.
Pelo menos o próximo.
Estão “no lixo” as contas públicas. Está no lixo a dignidade do estado português. Está no lixo a coerência política daqueles que em tempos de votos, fazem coligações atípicas e oportunistas. E fazem-no parlamento também ele atípico e incompetente, mas sob o pretexto da liberdade, da democracia e dos interesses nacionais. Corrijo, partidários.
E o país que está à beira do “lixo” financeiro, carregado de desemprego e crises sociais, permite que empresas públicas, geridas também com dinheiros dos contribuintes, muitas delas com prejuízos constantes, paguem aos seus administradores, centenas e centenas de milhares de euros anuais, a somar a outras mordomias indecorosas.
E estamos também no lixo, porque o pior que pode acontecer a um país é o Povo perder a confiança em que o governa ou na alternativa que se apresenta para a governança.
E é nessa que estamos.
No descrédito absoluto. No mesmo descrédito oferecido pelada I República e que abriu as portas à ditadura.
Hoje o “lixo”, ontem, a “choldra” de Eça de Queiroz, quando se referia à situação politica nacional de então.
Ontem a monarquia, hoje a República.
Mas, tal como Eça salvaguardava, há que dizer alto e em bom tom: o português é extraordinário. Tão extraordinária que tem tido paciência e coragem para aguentar e aturar tudo isto.
Até quando?
Fica a foto como sinal de esperança.
Que não se pode nem deve perder.
António Rodrigues
2.04.2011
Sr. Presidente acabei de ler o seu texto e gostei muito. Somos " lixo" considerado pelos outros, demasiados pacientes com tanta falsidade política e não só. Há que fazer algo sr. Presidente António Rodrigues e juntos podemos fazer tudo. Seguimos em frente, não se pode parar.
ResponderEliminarAs famosas agências de notação não foram hábeis a prever a crise de 2008. Foram criticadas...só isso e só por isso. Os bancos do epicentro daquela crise tinham bons ratings. Era o caso do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, por exemplo, que faliu, assim como também não foi antecipada a falência dos bancos islandeses. Mas se estas agências avaliam, qual é então o seu grau de crebilidade e sustentabilidade se ninguém as avalia, por seu turno? Muito simples: imagine-se rico... muito rico! Conta e reconta o seu dinheiro. Precisa de o ver crescer, tipo tio Patinhas (sem mais nem menos). O dinheiro... muito dinheiro carrega o poder... todo o poder... o poder supremo! Esta ansiedade pelo dinheiro faz com que seja necessário criar todo um sistema de gestão do fluxo do dinheiro em todo o mundo. As agências de notação são, sem mais nem menos, os cães de guarda de toda essa escumalha gananciosa. Imaginemos toda uma teia de tubagens às quais está ligado todo o dinheiro, através de um complexo sistema de empresas, grandes e pequenas, países tudo numa escala hierárquica. Nas pontas mais remotas da teia estão milhões... biliões de Zé-Ninguéns. As agências de notação cumprem o papel de hábeis sinaleiros, na gestão deste tráfego. Fecham canais, abrem canais em conformidade com o interesse e a vontade suprema... daqueles que possuem o tal poder supremo! Elas não precisam de ser avaliadas... só precisam de cumprir!
ResponderEliminarNo final da escala - pobre Zé-Ninguém! - estamos nós profundamente indefesos, infinito formigueiro fazedor.
Pelo que se tem observado, desta crise mundial sem precedentes, o problema é de grande complexidade. Mas talvez não tanto, se na Europa nascer a coragem e a acção. Sem hesitações e medos.
A mecânica pessonhenta que nos persegue, sem pudor nem piedade,tem que ser destruída. Está a levar a cabo o roubo do milénio para aumentar o seu poder o que deverá ser parado urgentemente! Se o problema é o ministro alemão das finanças que não morre de amores pelo Euro ou não tem muito interesse em estender a mão aos que necessitam... então apague-se o ministro mau e venha o ministro bom! O problema é a tenebrosidade das atitudes do FMI? Mande-se embora o FMI do FEEF e saibamos viver com o que temos. Bem sei que as coisas não são assim tão lineares, mas, sinceramente, também tenho a certeza que também não serão tão complexas. Faz-se crer que tudo isto é complexo... que a culpa é do director geral, do secretário de estado... ou do primeiro ministro... ou da Grécia... ou da Irlanda... Enquanto andarmos entretidos com esta culpabilização mútua, com guerras nas ruas, nos empregos, nos jornais e nas televisões... os bolsos de cada Zé-Ninguém vão sendo esvaziados até nada restar! E sem estarem rotos! Mágicas mãos encarregam-se de os esvaziar enquanto nos entretemos com a guerrilha.
É pena, numa circunstância como esta, não sentirmos uma palavra de confiança nos rumos a seguir por parte da mais altas magistraturas portuguesas. Silenciam-se como quem mete a cabeça debaixo da areia... como se nada ou quase nada tivesse acontecido e, em definitivo, não é seu o problema. Continua a envenenar-se o ar que respiramos. A doença vem da Madeira, quando um membro do Conselho de Estado, incita o povo madeirense à revolta! A doença vem de uma imensidão de economistas que traçam a cada hora os caminhos a seguir e os que deviam ter sido seguidos em contínuas contradições. A doença vem permanentemente de ex-políticos reformados e falhados que abrem a boca só para a crítica em tom de vingança pessoal.
Muito bem... continuemos entretidos neste arraial de destruição!
Onde é que irá ser a lixeira? Pode ser que depois ainda se consiga lá encontrar algo de valioso!
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ResponderEliminarOlá boa noite...
ResponderEliminarJá que aqui cheguei, aqui quero deixar meu abraço.
Bem forte, como convém.
Reciclar o lixo
ResponderEliminarAR está inconformado e como ele muitos cidadãos deste País. É de facto muito triste constatar que depois de 36 anos de comemorações dos “25 de Abril”, esta nação apresente no altar da 37ª comemoração, uma bandeja cheia de cravos já apodrecidos.
Que outras nações, com democracias evoluídas e economias mais dinâmicas, prometendo um futuro radioso para os seus povos (qualidade de vida com menos trabalho e mais cultura), também se tenham enganado nas contas e deixado iludir-se em falsas expectativas, olhando perplexas para o descrédito das suas previsões, isso ainda se pode compreender. Mas ver a nação mais antiga do Velho Mundo, revigorada por uma moderna revolução popular, a ajoelhar-se impotente perante a falta de meios para se governar, custa muito a aceitar.
Porém as coisas são o que são e contas são contas. É verdade que o raciocínio matemático sempre foi o nosso ponto fraco e a “esperteza saloia” o nosso ponto forte. Trata-se de uma conjugação de incapacidades que serviu bem ao “xico-espertismo” com que governantes e governados trataram durante décadas este Portugal democrático, mas nada ajuda quando se procura construir uma sociedade próspera, solidária e coesa.
Quando da próxima vez desfraldarmos as bandeiras ao 25 de Abril, muitos figurantes (experimentados políticos, afamados economistas, insignes jurisconsultos) vão ficar mal na fotografia. Nessa altura de exaltação nacional, tal como fez o desafortunado Camões, também não será de bom tom esquecer alguns “velhos do Restelo”, que ainda pregaram no deserto das consciências.
Mas, mais uma vez, há que dar a volta por cima. E agora não é preciso encomendar muitos estudos. Quanto à matemática, nem é preciso recorrer a explicações, fiquemo-nos por uma releitura do velho livro de álgebra, só para nos certificarmos que afinal 2+2 são 4 e não 22, e assumirmos que se continuarmos a gastar mais do que produzimos, acabamos arruinados, de porta em porta a pedinchar para que nos emprestem a diferença. Quanto à “esperteza saloia”, é só deixarmos de olhar para a ponta do nariz e utilizá-la para fazer aumentar o rendimento nacional, (mais exportação, mais turismo, mais inovação, mais investimento externo), mas sem endividar as gerações futuras. Implicará uns anos de sacrifícios e a selecção persistente de bons projectos que mobilizem a sociedade para a produção com qualidade e a preços competitivos. Pois é, mas isso também podemos aprender com alemães, franceses ou mesmo chineses e indianos (também habituados a recuperarem de períodos prolongados de dificuldades).
Também temos, como nação, grandes qualidades, que até escasseiam ou pouco interessam a outros povos e não trazem grandes dividendos, é verdade (humanismo, ecumenismo, multicultoralismo). Mas deixemos de vez de manchar essa delicada sensibilidade com os oportunismos egoístas, a falta de ética e a irresponsabilidade cívica.
Mas como AR, tenhamos esperança. E o problema do lixo também se resolve. Façamos como o abnegado jardineiro – juntemos todo o lixo (o maior e mais conspurcado vai ter que ser queimado), deixemos a decompor algum tempo e vamos mexendo até que fique bem curtido, para espalhar pelos campos. Até lá há que preservar algumas sementes, mas só as melhores. Hão-de brotar e dar flores. Novos cravos, agora multicoloridos, que não apodreçam.
Mário de Deus