Para alguns poderá ser insignificante que, ante ontem, se tenham passado 500 anos em que nós, os portugueses, tomámos Malaca.
Foi a 15 de Agosto de 1511.
Na linguagem de contexto histórico é assim que se deverá escrever, sem complexos e sem traumas. É precisamente por causa dos complexos e dos traumas em torno da nossa História que, vá lá saber-se porquê, se instalou após a Revolução, que esta data passou despercebida a quase toda a gente. Aliás, como outras ainda mais importantes.
Perguntar-se-á se é assim uma data tão significante para ser recordada?
Claro que é?
Num país em que tudo se comemora, recordar este feito determinante para a expansão marítima portuguesa não seria descabido, antes factor de exaltação dos feitos da nossa gesta marítima.
“Lá no grémio da Aurora, onde nasceste, opulenta Malaca nomeada”[1], assim Camões a cantou nos Lusíadas, não só pela sua beleza natural mas acima de tudo pela sua importância de base estratégica, na presença portuguesa no Oriente. Aliás, foi de lá que as naus portuguesas “desceram” mais para sul, até à ilha de Timor, em busca do sândalo. Para alguns historiadores, ali terão chegado por volta de 1512, para outros, 1513 ou mesmo 1514. Estou mais inclinado para a primeira hipótese.
“…Afonso de Albuquerque foi, não só, o verdadeiro fundador do “império” português na Ásia, mas também a melhor garantia da sua permanência. Em pouco mais de seis anos, ancorara os Portugueses no oceano Índico oriental pela conquista de Malaca (1511), controlando assim o tráfico marítimo com o Pacífico; impusera a autoridade e suserania portuguesas sobre Ormuz, dominando o golfo Pérsico (1507-15); e estabelecera uma base territorial para a sede da administração portuguesa pela conquista de Goa (1510)”.[2]
É neste contexto explanado por Oliveira Marques que se deve entender a importância de Malaca para suserana presença das forças portuguesas numa lógica dominadora de todos os mares do oriente. Presença que se manteve até 1641…
Seguramente, quero acreditar, que terão havido excepções, e esta data terá sido lembrada e devidamente reconhecida, aqui ou acolá; mas a verdade é que não foi notícia, num país em que tudo é notícia, mesmo os casos mais escabrosos e destituídos de qualquer interesse, que não seja o comercial.
E Malaca, nos dias de hoje, apesar de tudo, continua a recordar Portugal.
Lembremo-nos do velho Bairro dos Portugueses, onde ainda se fala português. O velho português como gostam de lembrar. E em língua lusa rezam, muito em particular nas missas, algumas delas celebradas em antigas garagens. E persistem, para além das igrejas católicas, ruas com toponímia portuguesa e, mais importante ainda, a velha fortaleza “A Famosa”, construída pelos lusos navegantes, onde ainda impera a lendária Porta de Santiago. E, sem raiva, os “portugueses” de Malaca lamentam que os portugueses deles se tenham esquecido, não deixando, no entanto, de organizar todos os anos as festas de S. João e de continuarem a ouvir o fado.
Apesar de tudo, é justo lembrar que, com o apoio do Instituto de Camões, há crianças em Malaca a aprender a língua portuguesa…
É bom, também por isto, lembrar Malaca!
Pelo que ela simboliza e pela importância que tem na nossa História.
Fica 148 km a sul da capital da Malásia, Kuala Lumpur, e é desde 2008 Património Mundial da Humanidade.
António Rodrigues
17 de Agosto de 2011