A mais pequenina

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Princesa

sábado, 18 de outubro de 2014

Francisco, o Operário



Morreu Francisco, o Operário.
Morreu Francisco Canais Rocha.

Torres Novas perdeu um grande Homem e um grande Amigo.
Sereno e humilde, foi um vencedor da vida, porque a viveu em plena harmonia e na defesa dos seus ideais. Antifascista movido por princípios, pagou caras as suas convicções e a sua coragem. A ditadura prendeu-o e durante anos o torturou barbaramente. Por causa disso, nunca lhe ouvi expressões de rancor ou revolta. Mas também por causa disso, teve uma saúde frágil, consequência dos tempos da cadeia.

Discreto na vida e na acção, foi assim que fundou uma das mais importantes instituições que Torres Novas viu nascer no Pós 25 de Abril, a ARPE. Foi um perno da instituição, que a todos respeitou e considerou. Nunca para a ARPE reclamou o que quer que fosse e muito menos exigiu “... se a Câmara puder ajudar... se a Câmara puder fazer...” era assim que o ouvia, sempre que com os seus colegas de direcção ia ao meu Gabinete. Quando ainda não há um ano, quase lhe exigiram para protestar porque a sede da instituição tardava em ficar concluída, recusou...não queria fazer política utilizando a ARPE...
E a Sede está lá, “também para ele”.

Canais Rocha tinha raízes crioulas.
O seu pai nasceu na ilha de Sto. Antão, em Cabo Verde, precisamente onde Torres Novas mantém cooperação lusófona. Foi o primeiro Secretário Geral da CGTP. Foi o príncipe do operariado e, também por isso, por muitos era admirado. Que o diga Carvalho da Silva, que muitas vezes vinha à cidade do Almonda para com ele matar saudades dos tempos, em que os tempos eram outros.

Canais Rocha foi sindicalista de referência e grande intelectual, discreto… quase envergonhado. Homem culto e profundo conhecedor da História do séc. XX, em particular a do operariado, Mestre em História Contemporânea, leva consigo conhecimentos e saberes invulgares.
Por deliberação do dia 30 de Setembro de 2003 foi homenageado pela Câmara Municipal de Torres Novas com a Medalha de Mérito Municipal da Cultura, que solenemente lhe foi entregue a 19 de Outubro do mesmo ano, em cerimónia realizada no Castelo da cidade. 

Deste Homem que me deu muitos conselhos e alertas, terei sempre saudades, muito em especial do seu exemplo enquanto cidadão dos pobres.
Que descanse em Paz, meu bom Amigo.

António Rodrigues

 

São garotos, os garotos da nossa desgraça


Assaltaram o poder, a pretexto de não mais impostos e nem pensar em reduzir vencimentos. E sabiam do que falavam, porque conheciam bem a situação económica e financeira do país, disse então o que queria e viria a ser o líder da nossa desgraça. Toda a esquerda (?) dita radical cantou em coro e foi esse coral que nos arrastou para uma das maiores desgovernanças da história do país, porque em coro bem afinado criaram a crise politica que teve as consequências que teve e que continuamos a viver.  
Em 2010, a dívida do país era 94% do PIB… 

E a garotada tomou posse… com pompa e circunstância, sob a presidência deleitada de um semi-moribundo Presidente da República… o tal do bolo-rei, que nunca se engana e que meses antes tinha em discurso solene, dito ao deposto primeiro-ministro, que o país não aguentava mais sacrifícios e mais austeridade…aguenta aguenta, diria mais tarde, sem respeito e sem vergonha, um dos representantes maiores dos mercados e do capital, neste país sem esperança.
E partir daí foi e é o que se sabe.

O maior ataque jamais realizado em Portugal aos que trabalham e que vivem do esforço do seu labor. Um ataque descarado, feito sem vergonha, sem pudor e sem remorsos. Que não chorassem, como aconteceu com a ministra italiana das finanças ao anunciar uma “gota” percentual na redução de alguns vencimentos, ainda vai que não vai… mas, que pelo menos, respeitassem os assaltados. É esta a marca de imagem da gente que nos desgoverna: insensibilidade social e desvergonha, próprio das gentes que vivendo bem, pouco ou nada fizeram na vida. Os tais que não sabem diferenciar uma galinha de um ganso…. Os tais que se assumem neo liberais… um liberalismo selvático que nenhum partido português, acredito que nem o “verdadeiro” PSD, defende.
Começaram pois, os delirantes aumentos dos impostos… sempre ou quase sempre as castigar os mesmos. Começaram as agressões à dignidade dos funcionários públicos, onde se englobam, entre outros, os professores e, mais grave ainda, o desrespeito e a traição a quem trabalhou uma vida inteira e passou a ser, na óptica dessa gente, a escória da sociedade: os pensionistas e os reformados. Os espoliados da esperança, traídos na memória dos tempos suados da vida passada.

E a dívida foi aumentando…

E aumentaram os pobres e muitos mais pobres.
Muitos, para o não serem, emigraram em busca da esperança, negada neste país por um líder que convida a juventude a emigrar… nem toda a juventude claro, porque vale mais um bom emprego no Banco de Portugal, para o filho de um tal durão, que mil jovens em busca da vida noutro tempo e fora de casa. Os tais que, noutras paragens e noutros continentes, beijam os filhos no vidro do Ipad. Estes sim, os heróis de Portugal, que sem padrinhos e sem durões, sofrem na pele a desgraça a que também por esta gente foram forçados.

Ao mesmo tempo que o Povo é assaltado, a dívida pública cresce e cresce. E não só porque baixou o PIB, pois claro, mas também e muito, porque o Governo que nos desgoverna aumenta a despesa pública, não parando de a aumentar a dívida do país…

O Povo paga para impostos.
O Povo paga para as despesas do Estado.
O Povo paga para os Bancos e para engordar aos mercados.

A propósito dos bancos, não podemos ter memória curta.
Temos um Presidente da República que garantiu, lá do Oriente, que o BES era boa gente e dava confiança ao País. O tal que nunca se engana, enganou-se e, mais grave, enganou o País… nem uma palavra de retratamento… outros Povos o teriam demitido. Para ele, o Povo agora até aguenta mais sacrifícios e mais austeridade… estranha a mudança de sentimentos.

Temos um Primeiro Ministro que garantiu a consistência do BES, que estava tudo bem…não haveria problema… mais uma vez, no meio de muitas, enganou os portugueses. Nem desculpas, nem demissão… nem demitido.
Temos um Governador do Banco de Portugal, que garante que o BES tem dinheiro e muito… a tal almofada salvadora, de milhares de milhões. Mentiu ao país… nem desculpas…nem meias desculpas. Nem se demitiu, nem foi demitido.

Perante tudo isto, que mais esperar?
Nada, absolutamente nada, a não ser cinismo e palhaçada, pois é disso que se trata quando o líder informa que em 2015 não haverá aumento de impostos. Para além de assaltarem o Povo, ainda o julga de parvo… todos sabemos que 2015 é ano de eleições.

E a dívida vai aumentando…

Com tantos cortes, com tantos e imorais impostos, em três anos a dívida do país passou de 94% para 134% no segundo trimestre deste ano… como foi possível? Como é possível?
De forma lúcida, o sábio Adriano Moreira, no sua obra “Memórias do Outono Ocidental um século sem bússola”, caracteriza o momento da seguinte forma: …A atitude do poder político neoliberal repressivo, inclina para um ataque à difícil unidade de nacionais, povo e multidão, porque lhe acrescenta politicas de divisão entre gerações, entre ricos e classes média, usando o incitamento à emigração qualificada e desacreditando a validade do Estado Social…

Isto é incontestável. E poderá ser uma desgraça.

 António Rodrigues