Morreu
Francisco, o Operário.
Morreu
Francisco Canais Rocha.
Torres
Novas perdeu um grande Homem e um grande Amigo.
Sereno
e humilde, foi um vencedor da vida, porque a viveu em plena harmonia e na
defesa dos seus ideais. Antifascista movido por princípios, pagou caras as suas
convicções e a sua coragem. A ditadura prendeu-o e durante anos o torturou barbaramente.
Por causa disso, nunca lhe ouvi expressões de rancor ou revolta. Mas também por
causa disso, teve uma saúde frágil, consequência dos tempos da cadeia.
Discreto
na vida e na acção, foi assim que fundou uma das mais importantes instituições
que Torres Novas viu nascer no Pós 25 de Abril, a ARPE. Foi um perno da
instituição, que a todos respeitou e considerou. Nunca para a ARPE reclamou o
que quer que fosse e muito menos exigiu “... se a Câmara puder ajudar... se a
Câmara puder fazer...” era assim que o ouvia, sempre que com os seus colegas de
direcção ia ao meu Gabinete. Quando ainda não há um ano, quase lhe exigiram
para protestar porque a sede da instituição tardava em ficar concluída, recusou...não
queria fazer política utilizando a ARPE...
E
a Sede está lá, “também para ele”.
Canais
Rocha tinha raízes crioulas.
O
seu pai nasceu na ilha de Sto. Antão, em Cabo Verde, precisamente onde Torres
Novas mantém cooperação lusófona. Foi o primeiro Secretário Geral da CGTP. Foi
o príncipe do operariado e, também por isso, por muitos era admirado. Que o
diga Carvalho da Silva, que muitas vezes vinha à cidade do Almonda para com ele
matar saudades dos tempos, em que os tempos eram outros.Canais Rocha foi sindicalista de referência e grande intelectual, discreto… quase envergonhado. Homem culto e profundo conhecedor da História do séc. XX, em particular a do operariado, Mestre em História Contemporânea, leva consigo conhecimentos e saberes invulgares.
Por deliberação do dia 30 de Setembro de 2003 foi homenageado pela Câmara Municipal de Torres Novas com a Medalha de Mérito Municipal da Cultura, que solenemente lhe foi entregue a 19 de Outubro do mesmo ano, em cerimónia realizada no Castelo da cidade.
Deste
Homem que me deu muitos conselhos e alertas, terei sempre saudades, muito em especial
do seu exemplo enquanto cidadão dos pobres.
Que
descanse em Paz, meu bom Amigo.
António
Rodrigues
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