…é saboroso à noite no Martinho, sorvendo aos goles um café, ouvir os verbosos injuriar a pátria…
Assim escrevia Eça no seu “O Mandarim”
“Já viu Rodrigues? Portugal visto a esta distância parece que se desmorona. Só há más notícias…”
O Presidente da República Jorge Sampaio, que a 1de Abril 2004 tive a honra de acompanhar na travessia de Santo Antão para S. Vicente (Cabo Verde), comentando com tristeza o telejornal português, naquela que foi a sua última viagem oficial fora de Portugal.
“E, como Primeiro-ministro (Cavaco Silva), visitou escolas japonesas e tinha ficado agradavelmente surpreendido com o conhecimento histórico das crianças sobre Portugal. Vocês deviam fazer o mesmo nas escolas, ensinar a cultura e a história dos países por onde passaram. É uma pena não o fazerem. Faz parte da memória. Não a manter é quase esquecer o passado. Falo também da Índia, da China. Estão a perder a vossa memória.”
Extracto da entrevista de Akira Miwa ao jornal “Expresso” do 31 de Julho de 2010, lamentando o desprezo que os portugueses têm pela memória da sua história…
Estas três expressões dizem quase tudo sobre nós. Enquanto nação e enquanto país…
Passamos o tempo a condenar-nos… a criticar-nos… E vem de longe, com especial ênfase para essa complicada centúria de dezanove, a tal em que Eça de Queirós escreveu boa parte da sua fascinante obra literária.
Somos o país onde tudo parece ser mau.
Onde pouco ou nada de bom se faz.
Quem governa, na óptica da oposição, governa sempre mal. Quando o PS é governo, para os outros tudo está mal. Quando é o PSD a governar para os outros tudo mal está. Como se fosse possível só fazer asneiras enquanto se governa… Como também não será possível fazer tudo bem.
É praticamente impossível ouvir a oposição reconhecer méritos, nem que sejam pontuais, a quem governa, seja ela qual for, em particular quando alternadamente o PS ou PSD detêm esse estatuto.
E este é o descrédito e a “desgraça” da política e dos políticos. Quando dizem que algo é preto quando toda a gente vê que é branco.
É a cultura do faz de conta, do bota a baixo e do quanto pior melhor. É a cultura do tacticismo em busca do protagonismo, das boas sondagens, de uma vitória eleitoral.
Quem trabalha no duro e enfrenta a vida com dificuldades, no mínimo, enjoa-se com tudo isto. Em especial se, ainda por cima, com o seu trabalho e com o seu esforço, tem que contribuir com os seus impostos para este triste cenário. Seja empresário, seja funcionário…
Não nos faltam comentadores, detentores de toda a verdade e que tudo criticam, ajudando a esta triste sina. Inspirados e imaculados por Deus nas suas altas qualidades, quis o Diabo que não fossem nossos governantes. Que pena! Isto, com eles, não estaria muito melhor? Claro que sim!
Mas se tudo isto dói, dói ainda mais o desprezo que temos pela nossa memória e pela nossa história. Uma história que, com os seus altos e baixos, por isso mesmo é história, tem pontos e referências que deveríamos não só conhecer, como divulgar e promover.
Os nossos alunos, os de hoje e os de ontem, desconhecem a essência e a identidade do país que os viu nascer. E não têm culpa alguma, porque quem nas últimas décadas nos tem governado e decide sobre os programas curriculares, obriga-os a não conhecer, o país e a sua história.
Veio agora um diplomata, e porque o é dizendo com diplomacia, que nós não temos dimensão para respeitar a nossa memória, o mesmo será dizer, a nossa história. Foi o caso do Embaixador do Japão em Lisboa, que veio dizer no expresso que as crianças japonesas ainda hoje estudam nas suas escola a história da presença portuguesa naquele país oriental.
Fica a oriental sugestão à laia de lição…
Mas, pobre país, quando hoje alguém com responsabilidades vem propor a discussão para se implementar nas nossas escolas o fim das reprovações, então é caso para dizer que tudo isto vai de mal a pior.
Já nem sequer faz sentido clamar pelo ensino dos nossos valores, da nossa memória colectiva, em suma da nossa História.
Para quê? Não é preciso!
Se já não é preciso estudar para passar o ano, para que serve mais matéria e mais complicações?
Mas isto um dia vai ter que mudar. Vai de certeza. Não o regime, claro, mas os incompetentes, políticos ou não, que sem regime e muitas vezes sem respeito, deixam passar a ideia de que somos um país sem futuro e sem esperança.
Enganam-se!
António Rodrigues
Na vida e na História tudo muda. Até o regime mudará um dia. O mundo é composto de mudança. Hoje, mais do que nunca, é preciso recuperar a esperança, a confiança e o respeito por nós próprios enquanto País com nove séculos de existência. Para superarmos as dificuldades e mudarmos para melhor.
ResponderEliminarJosé Trincão Marques
A Escola "a brincar" trouxe a história e a cultura do País ao estado em que se encontram...
ResponderEliminarO professor primário José Carvalho Duarte, nos idos dos anos 45/49, em Torres Novas, ali onde hoje é o museu, ensinava a ler, escrever, contar, a conhecer geografia e história. Obrigava-nos a trabalhar, era exigente, usava a cana da Índia para nos avivar a memória, premiava com gomos de laranja e brincava connosco no pátio de recreio,à sombra do grande damasqueiro onde também nos ensinava a colher, provar e distribuir os respectivos frutos.
È imperecível a memória daquela Escola.
Para um Ensino "a sério", as próximas gerações poderão salvar-se caso ultrapassem o "eduquês" e enveredem por estrita DISCIPLINA e TRABALHO duro,temperados com carinho e alguns intervalos para brincar.
Sr. presidente, se me permite dar uma "bicada" nas suas palavras que merecem muita atenção, sugiro que se leia "desgovernado" em vez de "governado":
ResponderEliminar"Os nossos alunos, os de hoje e os de ontem, desconhecem a essência e a identidade do país que os viu nascer. E não têm culpa alguma, porque quem nas últimas décadas nos tem governado e decide sobre os programas curriculares, obriga-os a não conhecer, o país e a sua história".
Muito de bom se tem feito, mas a nossa História também exige que se reconheça aquilo que ficou por fazer, ou se fez mal.
Nuno Matos
História? Identidade? Tradição? O que está a dar são choques tecnológicos para maravilhar criancinhas que irão chegar ao 12ºano sem saberem ler e escrever. Felizmente, há ditadores sul-americanos também atraídos por choques, para que isto não seja só prejuízo.
ResponderEliminarJR
Eça, sempre. E para percebermos um bocadinho do Portugal em que vivemos que tal uma leitura d' " O conde de Abranhos"...Ora recordemos:
ResponderEliminar"...este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa!"
Definitivamente, Eça.
Cumpriimentos,
Boa noite!
ResponderEliminarParece-me que se culpam sempre terceiros pela preguiça e acomodação ao mínimo esforço que as pessoas, na sua generalidade, adquiriram, exactamente por isso. É sempre o outro que tem a culpa.
Quando as crianças e jovens, e adultos também, deviam ser responsabilizados pela sua educação, pela sua cultura.
Um japonês sente-se desonrado se não sabe, se não realiza as suas tarefas com qualidade.
Como é que é cá? Onde é que está a honra, a dignidade do aluno que chega ao fim da escolaridade obrigatória sem saber ler e escrever a sua língua correctamente?
Por outro lado, os planos de estudos das escolas também têm um lado muito limitativo.
Se calhar havendo alguma "liberdade" será possível encontrar soluções para alunos não adaptados aos planos normais.
Fomos o primeiro país global.
Fomos o primeiro país a estender-se por todo o planeta e a aculturar e a aculturar-se. A nossa história confunde-se com a do resto do Mundo. E acho que carregamos o peso histórico de ter perdido todo o grande império conquistado.
E ainda se sentem vivas as forças que silenciaram e apagaram todo um património popular próprio, em nome da estabilidade ditaturial , irreversivelmente, e que a consequente euforia da liberdade continuou a apagar.
Mas, tomando como exemplo o nosso Presidente da República, não se vão interromper férias para se acompanhar as cerimónias fúnebres dum escritor, de quem não se era amigo, mas que por acaso recebeu um Prémio Nobel.
É um flagrante exemplo, ao mais alto nível, de que se despreza a cultura e a educação, para não falar da democracia e da liberdade!
Esqueci-me de assinar, o meu nome aqui na blogolândia é a.mar
ResponderEliminarAna Margarida Silva
Apreciei o seu comentário no blog do ex-autarca de Abrantes Nelson de Carvalho, onde ao contrário dele , exigia reprovações. Citei o mesmo no meu blog "Picozezerabt.blogspot.com".
ResponderEliminarA sua alusão ao sentir de desonra do aluno japonês por nãoi saber veio demonstrar que lá não é preciso o "chumbo" porque há outra dignidade e ética de pais e alunos, incapazes de fugir ao estudo.
É só um pormenor que nos coloca mal na fotografia.
Claro que um dia isto vai dar uma volta. Vai mesmo porque devemos 500 mil milhões ao estrangeiro. E eles é que vão dizer o que iremos fazer. E o Médio Tejo vai só ter uma Agência de Licenciamento. As Câmaras vão ficar para abrirem as bibliotecas e com três vereadores, um deles o presidente.
Não há dinheiro para mais...
Desde os tempos do Império Romano, os lusitanos continuam a ser um povo estranho "que não se governa nem se deixa governar"...
ResponderEliminarQue é capaz de grandes feitos, mas que frequentemente sofre ataques de pessimismo agudo... Talvez por isso a sua História comporta períodos de grande apogeu e de grande decadência...
Os portugueses estão imbuidos de uma cultura de saudade de futuro com a grandeza do passado!
E são capazes de "dar a volta ao mundo" quando tenham liderança e projectos que os mobilizem.
Quando não têm empecilhos administrativos, ( tipo a Federação Portuguesa de Futebol), burocratas mesquinhos com mentalidade ASAE ( tipo controladores de doping, que deviam aparecer pela mão dos dirigentes máximos da Federação e com esta vivamente mobilizada para que nada pudesse correr mal e a verdade desportiva não manchasse a nossa competição no Mundial.
ResponderEliminarE claro com uma equipa de dirigentes Federativos onde ninguém fosse cúmplice ou suspeito de "Saltilhos" e fosse capaz de na hora certa dizer duas verdades cara a cara ao emproado Prof. Queiroz, e este as ouvisse como costumava ouvi-las - e não bufava! - de Sir Fergusson, quando era seu adjunto no Manchester.
Porque onde há outro profissionalismo, lá temos um Mourinho que até é capaz de pôr o Ronaldo a marcar e a dar a marcar golos, no primeiro jogo depois das férias com a sereia russa...
Claro está, que com tanto treinador de bancada como enxameiam pelas nossas tv`s, sempre a fazer as perguntas mais cínicas, que nem matarroanos, este país só se afunda...
Cuspir na sopa também passou por omitir o meu comentário anterior que seria o nº 10...?!
ResponderEliminarEssa é outra postura atávica que o Eça não apreciava. Um sabor estranho a conluio de trazer por casa. Rasteiro e redutor. É o país com os amantes da liberdade que se vai conseguindo...
"ISTO UM DIA VAI TER QUE MUDAR"
ResponderEliminarPena que o autor do texto e deste blog não seja o primeiro a reconhecer, que a "censura" que fez nos comentários anteriores, só mostra como será pelo lado dele que irá partir a primeira reacção à mudança que diz querer, só para inglês ver...
Também não esperava muito mais de si. Valeu pelo teste. Um dia recordar-lhe-ei este seu pormenor...
Quando isto mudar...
Por motivo de férias, por um lado e, por outro, porque onde estava o acesso à net era muito complicado e, quando possível, muito lento, só agora voltei ao meu bloque, com um novo texto e, também com a publicação de alguns comentários que estavam "em fila de espera". Houve, como se pode ver, quem tirasse ilações precipitadas desta circunstânica, mas a vida é isto mesmo. Todos nós temos momentos de precipitação. Quem as não tem?
ResponderEliminarCumprimentos a todos.
AR