A mais pequenina

A mais pequenina
Princesa

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Porque Fogem?

Fruto dos recentes resultados estatísticos que quantificam o desemprego em Portugal, a comunicação social de hoje (18.08.010) aborda drama da fuga dos nossos jovens, em particular dos recém licenciados.

Este é um drama nacional. É a fuga do nosso património humano, o melhor de uma Pátria: os Filhos que fogem em busca de “países adoptivos”. Onde haja esperança, trabalho e auto-estima…

E porque fogem eles?

Uns porque estão desempregados e muitos outros porque perderam a esperança.

Outros porque vivem no seio de famílias atingidas pelo desemprego e pela crise; famílias que sofrem em silêncio o drama dos tempos novos. Vivemos o tempo da “desesperança”… o tempo em que parece que em Portugal nada é bom…nada acontece e nada tem futuro. Um tempo desgraçadamente mau. O tempo em que só há tempo para nos autoflagelarmos e denegrirmos. O tempo em que não há tempo para validar as coisas positivas, mas antes focar as desgraças, muitas vezes ampliadas.

O tempo em que quem governa e toma decisões, se sente isolado na coragem da decisão, porque mais ninguém, mas mesmo ninguém, considera boa a decisão. Seja ela qual for! Mesmo quando absolutamente certa!...

Seja que governo for, independentemente do partido que o suporta, será sempre um governo estigmatizado num país zangado consigo próprio. À coragem da decisão, associa-se de imediato a facilidade da crítica de toda a oposição, hoje uma, amanhã outra, mas sempre oposição cega e derrotista. E uma oposição com ecos ampliados em quase tudo o que é comunicação social. Temos uns que decidem e um coro que ataca quem decide.

Foi assim nos últimos dez anos…

É assim com um governo PS. Amanhã será assim com um governo PSD. Ou outro qualquer…

Vivemos o descrédito das instituições e da democracia. E dos políticos. Que se consomem nestas tricas miseráveis que nos hão-de levar ao abismo. Ao abismo de uma liberdade, se não aniquilada, porque impossível, a uma liberdade condicionada e amordaçada…

Ninguém é verdadeiramente livre num país que, a pretexto da liberdade, a não sabe aproveitar para se afirmar, para competir, para trabalhar e para produzir…

Um país que faz da comunicação social os seus tribunais, onde é mais credível uma notícia que uma decisão de um juiz ou de outro qualquer magistrado.

Um país em que tudo é questionado… em que ninguém parece ser competente…

E é disto que fogem os nossos jovens…

E olham para trás e percebem que deixam um país em que a geração de seus pais e avós não o soube governar, não o soube afirmar, não soube ser digna das heranças da sua História.

Na década de setenta, princípios de oitenta, ouvi alguém dizer a pretexto da bagunça que então ocorria no ensino universitário, - para muitos óbvia fruto do momento excepcional que então se vivia, - onde imperava o facilitismo, as RGA e as passagens administrativas e, com ar premonitório, o seguinte: “ai deste país quando esta malta tiver responsabilidades directivas, seja nas empresas, seja no governo…”

Terá o homem acertado ou será uma triste coincidência? …

António Rodrigues


18.08.010



Foto de Antero Inácio

4 comentários:

  1. Tudo parece indicar que o homem acertou...
    E com o caminho que a Educação tem feito e continua a percorrer, precipita-se para pior e compromete gravemente as gerações futuras.
    E se o "navio" mete água, os mais expeditos procuram salvar-se!

    ResponderEliminar
  2. Sou o Manuel Geada, apaixonado por Cabo Verde, de onde tenho familiares, estudante da Uab, felicito-o pela sua postura e atitude.Só um Homem profundo e sábio escreveria com tal sensibilidade. Hoje, estando desempregado e não teno que comer, dou o real significado apalavras como as suas... Só um Humanista conhecedor da História e das estórias que fazem parte de um Povo, escreveria de tal forma! Bem Haja e Deus Consigo.Saudações. Manuel Geada, Santarém

    ResponderEliminar
  3. Caro António Rodrigues

    Vivemos as consequências do modelo de desenvolvimento e de civilização escolhido pelas elites políticas, permitida com a passividade dos otários. Um modelo que alguns políticos da nossa praça (e não só) estupidamente pretendem tornar ainda mais desumano e desumanizado, onde a frieza dos números se sobrepôe a quaisquer valores. Quem subscreve ou subscreveu este modelo, e não é o meu caso, deve agora mudar de rumo e não chorar lágrimas de crocodilo, ou em alternativa teremos um mundo onde a humanidade será cada vêz infeliz !

    Um habitante de Torres Novas que foi obrigado a ir trabalhar para a zona de Lisboa.

    ResponderEliminar
  4. O mundo é agora a nossa rua

    Devo dizer que, num ímpeto, quis opinar sobre este artigo e, num ímpeto, pareceu-me que me faltava algo para alinhar as frases. E não opinei.
    Mas li ontem mais um excelente artigo do nosso génio Leonel Moura (http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=441965) e aí estava a solução para o tal necessário alinhamento.
    Finaliza ele no seu artigo "O mundo é agora a nossa rua".

    De facto, há quarenta anos atrás, cada quilómetro era imensamente mais longínquo que hoje. Ainda se faziam viagens marítimas transcontinentais. O que acontecia num local, a 30 quilómetros, era algo que não nos dizia respeito. A informação demorava a percorrer a distância. Chegava, por vezes, distorcida. A nossa alimentação era baseada, essencialmente, na produção agrícola local. A televisão, o telefone ou o automóvel eram bens a que só gente rica tinha acesso. Mas este facto era generalizado e era mais ou menos assim em todo o planeta. Claro que assimetrias existiam. Mas, de facto, o nosso mundo era imensamente curto no seu horizonte.

    Hoje é tudo bem diferente (ou assim deveria ser entendido). As distâncias são mais curtas em todos os aspectos. Toda a actividade que envolva o ser humano metamorfoseou-se num percurso sem retrocesso. As dinâmicas e o processos deixaram de ter expressão se construídos sob os padrões de há quarenta anos. A escala é, hoje, global. O que se faz numa região, interessa à outra. Por isso deverão desenvolver-se esforços culturais, económicos e políticos, que lancem verdadeiras dinâmicas de expressão de nível distrital ou inter-regional.

    Os jovens, ao contrário daqueles que já ultrapassaram o meio século de vida, aprendem muito cedo essa nova dimensão do mundo. Sabem que não "pesa" se precisam de se deslocar ou comunicar. Sabem que o computador é uma janela aberta ao mundo. Num ápice descobrem isto aqui ou ali. Longe - muito longe, perto - muito perto. E num ápice estão aqui ou ali. Vão e estão onde o mundo os chama. Onde pensam que está aquilo que lhes dá o prazer de viver. Este movimento migratório nada tem a ver com aquele que se viveu nos anos 60. Aí sim, era a busca da sobrevivência e a fuga a um regime asfixiante. Os nossos jovens "fogem" para outras bandas e jovens de outras bandas procuram-nos.

    Será inevitável que iremos assistir a um mundo bem diferente. Um mundo que será a nossa rua.

    Nota: Obrigado pelo uso da minha fotografia a ilustrar o artigo.
    Para quem não conhece o leonel Moura, pode seguir o link (http://www.leonelmoura.com/)

    ResponderEliminar