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Princesa

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Pastor

Conheci um pastor cuja paixão eram as suas ovelhas.

E era um bom pastor.

Galgava montes e montículos com um rebanho exemplar que o acompanhava com uma obediência canina. Tão canina que os cães pouco se preocupavam em unir o que unido estava. E o rebanho lá percorria matas e ervados.

Gordo e luzidio.

E o pastor era respeitado na sua profissão.

Sabia escolher os melhores pastos e os caminhos menos penosos para o seu vasto rebanho.

Quando uma ou outra ovelha se tresmalhava ou saía fora dos eixos, um mero assobio do pastor ou a corrida de um cachorro, reagrupava a riqueza do homem do cajado.

E assim foi durante anos a vida deste pastor, que com o tempo sentia que o seu pecúlio evoluía, porque as pastagens não faltavam e as reproduções aconteciam naturalmente. O homem trabalhava e muito.

Mas também tinha e sentia a recompensa do seu esforço.

Vieram tempos maus.

Os pastos pioraram e as secas tornaram-se mais prolongadas que o normal. E o pastor não podia fazer milagres. Não tinha força sobre a natureza para que as chuvas viessem e os pastos rejuvenescessem.

A juntar a este contratempo, o pastor, para surpresa de muitos, em vez de procurar verdura nos arrabaldes onde existiria, não o fez.

Acomodou-se.

Foi, para ele, mais fácil sujeitar as ovelhas às ervas secas e empoeiradas do que se esforçar por melhores e verdes campos.

E as ovelhas ressentiram-se. Perderam peso e brilho.

E dispersaram-se em busca de melhor pasto. E o pastor, de cajado em riste e assobios arrepiantes, bem se esforçou e tudo fez para reunir de novo as ovelhas que, na ânsia do viço da erva, deixaram de o ouvir e perderam o respeito aos cães pastores.

A erva estava seca, queriam melhor. Mereciam melhor.

E o pecúlio começou drasticamente a corroer.

E o pastor percebeu, tarde, que se se tivesse esforçado, e optado por novas pastagens embora mais longínquas, o seu rebanho continuaria unido. Luzidio e gordo a fazer inveja aos demais.

Mas não o fez…

As ovelhas andam tresmalhadas.

Será o pastor capaz de voltar a reunir o seu rebanho?

António Rodrigues

25.01.2011

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