A mais pequenina
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
3,7%
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Perdoado seja (II)
A Igreja no seu melhor… a portuguesa claro!
Para D. Policarpo o país chegou a um estado tal que as manifestações não fazem sentido. “Comer e calar” parece ser o seu lema… ou por outra, não comer e calar…
Eis uma afirmação de incompreensível resignação que, vindo de quem vem, tem algo de muito mais grave. Para este homem da Igreja, o primeiro do país, as manifestações e protestos de rua não fazem sentido e só incomodam.
A fome atinge muitos e, em particular, os que dela sempre estiveram muito longe.
A dura realidade é que em Portugal há fome e fome escondida, pela vergonha.
E há sub-alimentação.
E que não são solidários.
É mau ser insensível.
Esta não é a Igreja solidária de que todos precisamos.
Se há uns meses D. Policarpo nos mimoseou com a afirmação de que “ninguém sai da política de mãos limpas”, também é caso para lhe dizer que nem todos os líderes da igreja sabem estender a mão a quem precisa.
Valha-nos não ser aquela a verdade absoluta da política, valha-nos não ser aquela a verdade absoluta da Igreja Católica portuguesa.
Hoje, um pouco por todo o lado, prolifera a solidariedade e o apoio efectivo, muitas vezes no silêncio e na discrição, dos católicos deste ou daquele recanto do nosso traumatizado país. Há, em Portugal, homens, mulheres e jovens que, no silêncio do amor, repartem o que têm para que o outro sofra menos. Na solidariedade e no apoio ao próximo, os católicos e suas instituições são exemplo.
No respeito por todos aqueles que sofrem, católicos ou não, D. Policarpo deveria dar uma mensagem de respeito, de esperança e de solidariedade.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
O absurdo da cegueira
Artigo Publicado na Revista Pontos de Vista, suplemento do Jornal "Público" do dia 16 de Julho de 2012
sábado, 19 de maio de 2012
TIMOR - a paixão
Há dez anos estive lá.
19 em Lisboa, 20 de Maio em Timor Leste
domingo, 4 de março de 2012
PS sem freguesia
O processo da junção de freguesias, melhor falando, da reforma administrativa do território português, não vai correr bem.
Por isso, perderão as populações.
Seguramente!
O Governo apresentou proposta no parlamento, que para muitos terá sido feita a régua e esquadro e, talvez, também com compasso.
Mas a verdade é que a apresentou. “Cumpriu” assim, goste-se ou não, o famigerado acordo que o país assumiu com a “Tróika”; a tal, que só nos deixa os trocos…
Nunca fui e presumo que nunca serei, apoiante da redução das freguesias rurais, embora compreenda que é sensato só se justificar a existência dessa autarquia, a partir de determinada dimensão populacional. Como também se entende a redução das freguesias urbanas porque, em muitos casos, assumem uma verdadeira duplicação de esforços e responsabilidades que hoje, dada também a evolução tecnológica ao nível da informação, já não fazem sentido. Pelo menos de forma tão prolífera.
Já aqui, neste blogue manifestei a minha opinião sobre o tema.
E, quando escrevi esse apontamento, era minha ingénua convicção de que o Partido Socialista, ouviria TODOS os seus autarcas e apresentaria proposta no parlamento. Como era sua obrigação, dado que não concorda com a do governo e, mais importante que isso, porque também assinou o tal documento. E, mais ainda, porque no tempo de Sócrates, já as cúpulas do partido defendiam de forma assumida a redução das freguesias. E é bom que nos lembremos que se defendia este desiderato político, quando nem sequer havia Tróika e suas imposições.
Velhos tempos!
O PS errou.
Não por ter votado contra a proposta do governo mas, porque ao votar contra, decorreria dessa legítima posição, a obrigatoriedade de apresentar a sua proposta na Assembleia da República.
Porque assinou o acordo. Da mesma forma com que no parlamento tem votado com venda nos olhos, propostas do governo, indo a reboque do argumento do compromisso que resulta da assinatura do documento, desta vez esqueceu-se desse detalhe.
Custaria muito ao Partido Socialista propor num simples documento aquela que é sua posição pública sobre o tema? Talvez com esse posicionamento e em sede de Comissão da Especialidade todos ganhássemos. O Poder Local em geral e as freguesias em particular.
Os dois partidos do arco do poder local, em sede de negociações e com duas propostas na mesa, teriam, forçosamente que se entender. E o resultado seria, necessariamente, uma proposta final com maior consistência e abrangência política e, por consequência, com maior e melhor acolhimento público.
Se o PS tivesse apresentado proposta, quero acreditar, teríamos muito mais possibilidades de manter muitas das actuais freguesias rurais. Assim, muitas delas, com a proposta do governo, serão anexadas.
O país perde e desiluda-se quem no PS possa sonhar que se ganha politicamente com esta estratégia tacticista, eleitoralmente falando.
Até porque, ao ter assinado o acordo, o PS terá que se preparar, metaforicamente falando, entenda-se, para o velho ditado: “tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica cá fora”.
António Rodrigues
4 Março de 2012
sábado, 21 de janeiro de 2012
A BOFETADA DO MINDELO
Os mindelenses descansavam da folia própria da véspera de feriado.
O vento era forte e o tempo encoberto.
E tristonho.
Neste cenário, nada habitual em Cabo Verde, deambulei pela praça em busca de sinal publico de WI-FI quando me surgiu quase do nada, um jovem cabo-verdiano.
Delicadamente pediu-me 30s segundos de conversa. De imediato garantiu que não iria pedir dinheiro.
Explicou, nervoso, que era estudante do secundário e que precisava de cadernos de apontamentos.
Não queria dinheiro, repetiu e repetiu, mas que o acompanhasse a uma papelaria e lhe oferecesse os cadernos que tanta falta lhe faziam.
Achei estranho porque era feriado nacional, dia de Cabral, e todo o comércio estava encerrado. Garantiu-me me que não e lá o acompanhei a primeira livraria, logo ali ao lado.
Estava fechada.
Pediu-me me para ir a uma outra. E lá fomos para os lados do palácio do governador... Também estava fechada. Como todo o comércio!
Claro, era feriado, dizia eu...
O jovem, repetindo insistentemente que não queria dinheiro, pediu para irmos ao Monte Sossego onde, garantidamente, uma outra livraria estaria aberta.
Não, não vou, - disse-lhe -, porque é muito longe e já não acredito muito na tua história. Triste, perguntou-me me se podia levar o dinheiro para tentar a compra. Que eu ficaria com os seus parcos haveres como garantia do seu regresso para que eu pudesse confirmar que o dinheiro tinha sido gasto em cinco cadernos de apontamentos. Ou, para mo devolver, se fechada estivesse a loja.
Dei-lhe os escudos! Ainda bastantes! e separá-mo-nos. Garantiu-me que em 20 minutos me reencontraria no hotel. E que traria também a factura da compra...e para isso me pediu o meu nome...
Matutei no caminho, ao encontro do hotel e conclui que história não estava muito bem contada. Afinal era mesmo feriado em todo o Cabo Verde.
A “tanga” tinha sido grande.
Se calhar fui bem enrolado, pensei.
De imediato me arrependi do raciocínio precipitado e porventura injusto. Há que esperar para ver...
Passaram os 20m... Depois 40... E os 50 também.
Nada!
Do rapaz, nem a sombra!
Diz-me a recepcionista do hotel que seguramente fui enganado.
Fiquei fulo, não tanto pelo dinheiro, mas por ter sido burlado por jovem que se arrogou candidato a estudante de cardiologista, na universidade de Coimbra. Porque ganhou bolsa oferecida por uma televisão portuguesa. Porque era bom aluno...
Que história mais bem contada.
Que burro fui em ter ido na conversa.
Não a contes a ninguém que ainda te gozam….pensava eu...
E procurei esquecer tamanho embuste.
Já lá ia uma boa hora desde a despedida e, ao atravessar a mesma praça, vislumbro, de costas, um jovem com camisa rosa, a mesma cor da dos cadernos. Estava em conversa com o meu amigo Pedro Ferreira.
Aproximei-me.
Não é ele, pensei! Mas que coincidência, a camisa é igual…
Aproximei-me e diz-lhe o Pedro:
- Andavas à procura dele, aqui o tens.
O rapaz virou-se e ficámos cara a cara.
Mete a mão ao bolso, saca as notas, estende-me a mão e devolve-me o dinheiro. Com tristeza diz: também estava fechada.
Fiquei gelado e envergonhado.
Sem palavras e ao mesmo tempo feliz, porque a lição foi grande.
E conversámos os três, agora com credibilidade acrescida...
E o jovem tem mesmo inscrição em Coimbra.
Quer ser cardiologista e ficará instalado no S. Teotónio, enquanto estudante. Ganhou mesmo uma bolsa de estudo de um canal televisivo português.
Naquele dia, para ele, não haveria feriado. Tinha que estudar para subir uma nota. O 18,2 não o satisfez...(!!)
Conversámos mais um pouco e despedi-me com pressa.
Queria ainda apanhar a recepcionista para corrigir o juízo precipitado. Não foi preciso muita conversa. Foi por lá que ele começou a procurar... E a recepcionista também já estava esclarecida. E orgulhosa.
Do jovem, nem o nome fixei.
A lição foi grande e, sem traumas, aqui a partilho.
Em homenagem a este a outros jovens cabo-verdianos, que lutam de forma única para vencer obstáculos.
Para estudarem.
Para serem grandes, num país pequeno, mas com alma gigante.
Num país que continua a acreditar no futuro.
Um país com esperança!
Claro que devolvi o dinheiro ao estudante. Sem necessidade de factura de volta.
E deixei um obrigado implícito pela lição.
Não julgues para não seres julgado.
Ajusta-se aqui e muito bem, a palavra do Outro!
António Rodrigues
21 de Janeiro de 2012