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Princesa

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Os Silêncios de Pedro


O Pedro Lobo Antunes morreu depressa.
Em época de Natal… sem avisar e deixando na família e nos amigos uma o
nda de dor e de choque.
Para além do desgosto da partida, senti o coração apertado porque estava em falta com ele.
Foi meu Vereador durante oito anos.
Há muito que tínhamos em atraso, conversas e temas para ajustar e pôr em ordem… Pensava um dia ter o tempo e a oportunidade para esse tipo de diálogo. Que era fundamental existir. Na altura, bastavam-nos as nossas trocas de mensagens durante os jogos do Benfica, que cada um via na sua casa… era o nosso silencioso elo de amizade.  
No dia do seu funeral saí de Lisboa também incomodado por nunca ter arranjado tempo falar com o Pedro.
Já não havia nada a fazer… pensei. Nunca temos tempo para nada… vamos adiando…fica sempre para amanhã! Por isso suportei o peso na consciência.
Ainda assim, no dia do funeral, disse ao seu filho Daniel que um dia gostaria de ter uma conversa com ele. Para desabafar! Para compensar o incompensável!
Mas porque havia de falar eu com o Daniel se só o tinha visto três ou quatro vezes?
O tempo foi passando e sempre em mim a vontade de escrever algo sobre o Pedro. Mas algo que fizesse profundo sentido. Ele que não era nada de banalidades e de loas ao desbarato, não aceitaria qualquer tipo de desabafo sem sentido. Fui adiando o texto, tal como as conversas com ele.
Tive que vir a Cabo Verde.
A data nem estava para ser esta. Afinal estamos na semana da Páscoa e Cabo Verde, de tantos turistas, tem as ilhas cheias até ao mar. Hesitei muito mas, mesmo em cima da hora, decidi e vim. E cá estou!
Por sua vez, o Daniel, que fala em silêncio com o seu pai, um dia descobriu num dos blusões do Pedro, um canhoto de um bilhete de viagem feita a Cabo Verde, precisamente comigo. Já lá vão uns anos. E o Daniel, que na altura estava para fazer uma viagem, interpretou o óbvio. O meu pai está a convidar-me a visitar Cabo Verde, terra de que tanto gostava. O Daniel hesitou mas acabou por marcar a viagem. É um dos muitos que em férias enche o arquipélago crioulo.
Cheguei a Cabo Verde no domingo de madrugada e, claro, fui para o hotel.
O Daniel, chegou a Cabo Verde no domingo de madrugada e, claro, foi para o Hotel.
Na manhã de domingo, ao pequeno-almoço, o Pedro pregou-nos uma partida…
Eu, que raras vezes via o Daniel, e que nunca desde que venho a este país, tinha ficado alojado neste hotel, julguei ser ele que estava ali. 
Estava só, numa das mesas do restaurante.
Olha que está ali um sósia de um dos filhos do Pedro; já nem me lembrava do nome dele. Isto da idade é uma chatice para guardar nomes…
Fixámo-nos nos olhos (os dele, são muito bonitos) e foi arrepiante percebermos quem éramos.
Porquê aqui? Perguntei. Estou numa de homenagem a meu pai, respondeu. Foi quando soube da história do canhoto do bilhete e do porquê da sua vinda a Cabo Verde.
E conversámos e conversámos.
Almoçámos e jantámos.
E falei com o Daniel o que não tinha falado com o Pedro.
Com o Daniel “ajustei as contas” que tinha com o seu pai.
Fiquei com a consciência mais leve.
Indiquei-lhe os locais que o pai adorava ver em Sto. Antão. Enquanto o Daniel passeia pelo Tarrafal, que visitei pela primeira vez com o Pedro, escrevo estas palavras para, de Cabo Verde, homenagear o meu Amigo Pedro Lobo Antunes.
Que admirei e cuja amizade é perene, agora continuada com o filho. E fizemos um pacto de amizade, qual trespasse do pai… Passaremos a trocar mensagens aquando dos jogos do Benfica… e a estreia será já no domingo quando as águias voarem a glória de campeãs.
O Daniel, dos três filhos, é o único que nasceu em Torres Novas, terra que o pai adorava.
Tantas coincidências, não são?
Obrigado Pedro por nos ter marcado as viagens.
O Pedro era assim! Falava muito e bem nos silêncios…
E nos silêncios continua a falar!…
 
António Rodrigues
15 de Abril de 2014
Cidade da Praia – Cabo Verde
 

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