O
Pedro Lobo Antunes morreu depressa.
Em
época de Natal… sem avisar e deixando na família e nos amigos uma o
nda de dor e
de choque.
T ive
que vir a Cabo Verde.
Para
além do desgosto da partida, senti o coração apertado porque estava em falta
com ele.
Foi
meu Vereador durante oito anos.
Há
muito que tínhamos em atraso, conversas e temas para ajustar e pôr em ordem…
Pensava um dia ter o tempo e a oportunidade para esse tipo de diálogo. Que era
fundamental existir. Na altura, bastavam-nos as nossas trocas de mensagens
durante os jogos do Benfica, que cada um via na sua casa… era o nosso silencioso
elo de amizade.
No
dia do seu funeral saí de Lisboa também incomodado por nunca ter arranjado
tempo falar com o Pedro.
Já
não havia nada a fazer… pensei. Nunca temos tempo para nada… vamos adiando…fica
sempre para amanhã! Por isso suportei o peso na consciência.
Ainda
assim, no dia do funeral, disse ao seu filho Daniel que um dia gostaria de ter
uma conversa com ele. Para desabafar! Para compensar o incompensável!
Mas
porque havia de falar eu com o Daniel se só o tinha visto três ou quatro vezes?
O
tempo foi passando e sempre em mim a vontade de escrever algo sobre o Pedro.
Mas algo que fizesse profundo sentido. Ele que não era nada de banalidades e de
loas ao desbarato, não aceitaria qualquer tipo de desabafo sem sentido. Fui
adiando o texto, tal como as conversas com ele.
A
data nem estava para ser esta. Afinal estamos na semana da Páscoa e Cabo Verde,
de tantos turistas, tem as ilhas cheias até ao mar. Hesitei muito mas, mesmo em
cima da hora, decidi e vim. E cá estou!
Por
sua vez, o Daniel, que fala em silêncio com o seu pai, um dia descobriu num dos
blusões do Pedro, um canhoto de um bilhete de viagem feita a Cabo Verde,
precisamente comigo. Já lá vão uns anos. E o Daniel, que na altura estava para
fazer uma viagem, interpretou o óbvio. O meu pai está a convidar-me a visitar
Cabo Verde, terra de que tanto gostava. O Daniel hesitou mas acabou por marcar
a viagem. É um dos muitos que em férias enche o arquipélago crioulo.
Cheguei
a Cabo Verde no domingo de madrugada e, claro, fui para o hotel.
O
Daniel, chegou a Cabo Verde no domingo de madrugada e, claro, foi para o Hotel.
Na
manhã de domingo, ao pequeno-almoço, o Pedro pregou-nos uma partida…
Eu,
que raras vezes via o Daniel, e que nunca desde que venho a este país, tinha
ficado alojado neste hotel, julguei ser ele que estava ali.
Estava
só, numa das mesas do restaurante.
Olha
que está ali um sósia de um dos filhos do Pedro; já nem me lembrava do nome
dele. Isto da idade é uma chatice para guardar nomes…
Fixámo-nos
nos olhos (os dele, são muito bonitos) e foi arrepiante percebermos quem
éramos.
Porquê
aqui? Perguntei. Estou numa de homenagem a meu pai, respondeu. Foi quando soube
da história do canhoto do bilhete e do porquê da sua vinda a Cabo Verde.
E
conversámos e conversámos.
Almoçámos
e jantámos.
E
falei com o Daniel o que não tinha falado com o Pedro.
Com
o Daniel “ajustei as contas” que tinha com o seu pai.
Fiquei
com a consciência mais leve.
Indiquei-lhe
os locais que o pai adorava ver em Sto. Antão. Enquanto o Daniel passeia pelo
Tarrafal, que visitei pela primeira vez com o Pedro, escrevo estas palavras
para, de Cabo Verde, homenagear o meu Amigo Pedro Lobo Antunes.
Que
admirei e cuja amizade é perene, agora continuada com o filho. E fizemos um
pacto de amizade, qual trespasse do pai… Passaremos a trocar mensagens aquando
dos jogos do Benfica… e a estreia será já no domingo quando as águias voarem a
glória de campeãs.
O
Daniel, dos três filhos, é o único que nasceu em Torres Novas, terra que o pai
adorava.
Tantas
coincidências, não são?
Obrigado
Pedro por nos ter marcado as viagens.
O
Pedro era assim! Falava muito e bem nos silêncios…
E
nos silêncios continua a falar!…
António Rodrigues
15
de Abril de 2014
Cidade
da Praia – Cabo Verde
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