Faz hoje 800 anos que
começámos a ter uma alma enquanto Povo e que iniciámos o processo fundamental
da nossa identidade histórica.
Faz hoje anos que
alguém pensou no futuro e sentiu que havia uma Nação.
Uma Nação que falaria
português por muitos e muitos anos. Foi D. Afonso II que assumiu este futuro e,
diga-se, não há muitas nações que saibam exactamente o dia em que nasceu a sua
própria língua.
Pois nós sabemos!
A língua de Camões
falada em quase todo o mundo.
É no Brasil, que por
consequência directa das invasões francesas em Portugal, ela melhor, mais rápido
e eficazmente se implantou, com aquele sotaquezinho tão próprio e sensual dos
brasileiros.
É na África quente de
terra vermelha, entre crioulos e vernáculos locais, que a nossa língua é ponte
para o mundo multicultural e multirracial, orgulho para quem de peito aberto se
afirma luso pela língua. Essa África mítica de sonhos e anseios, onde Angola,
Moçambique, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde, se sentem irmãos pela
língua, e com ela e também por causa dela, vivem o futuro com esperança.
África, essa crioula voz que adocica a língua e nos aquece a alma.
E Timor? Timor lá do
outro lado do planeta, onde muitos, mas muitos, foram assassinados por falarem
português e que hoje lutam para que o português seja também elemento
determinante para o seu desenvolvimento e afirmação no contexto das nações. E
se a nossa língua tão bem convive com o tétum…tão bem…
E Macau e Goa onde
ainda há vestígios da nossa alma?…
Onde se fala o
português e ver televisão portuguesa é orgulho e referência para muitos…
E em Malaca, onde ainda
se fala e reza com o velho português…lá no bairro de S. Pedro…
Eis a nossa língua,
alma que a Lusa Expansão Marítima deixou um pouco por todo o mundo.
Faz hoje 800 anos que
começámos a falar português.
E há que ter orgulho
por falarmos português e ainda mais orgulho de muitos outros países o fazerem.
Há que perder os complexos e traumas neocolonialistas e assumirmos que é também
nestas e com estas nações, que poderemos sonhar com um futuro ainda mais
solidário e próspero para todos os qua falam, como agora escrevo.
Perdemos no futebol
onde jogou uma equipa de 11, mas ainda ninguém falou que ganhámos na promoção
da língua que o Brasil fala e que em todo o mundo é abraçada por mais de 244
milhões de almas.
O futebol não é a
nossa pátria.
“A minha pátria é a Língua
Portuguesa”… disse Pessoa… olhando o mundo, ele teria dito
“a
nossa pátria é a língua portuguesa.”
Eis o testamento de
D. Afonso II, o Gordo! O do conteúdo e o da forma!
Que orgulho!
António
Rodrigues
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