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Princesa

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Globalização, fenómeno que assusta

Parece hoje fácil perceber que a globalização é um fenómeno que assusta. É um fenómeno que para além de económico, só o é, porque também é cada vez mais um fenómeno cultural que advém da facilidade de comunicação que as novas tecnologias nos vieram oferecer. Hoje, em todo mundo, a mobilidade de pessoas e de mercadorias é perfeitamente vulgar e, por isso mesmo, não deixa de ter naturais consequências sociais e até políticas nas comunidades envolvidas.

Caíram as barreiras, abriram-se fronteiras e o mundo ficou mais pequeno. Como refere Giddens, as relações sociais unem cidades bem distantes, de tal modo os acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas. Estes são tempos de modernidade que não voltarão ao ponto de partida. A globalização veio para ficar e para intensificar ainda mais a pressão sobre determinadas regiões do globo. Não é difícil perceber que este processo é determinante para uma maior clivagem entre povos ricos e pobres, contribuindo para uma maior separação e distanciação dos seus rendimentos.


É adequado aplicar a conhecida e infelizmente realística frase que exprime a noção de que os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Por isso, caminhamos a passos largos para crises políticas, sociais e ambientais, quer seja um pouco por todos os países, quer seja a uma maior escala em regiões mais delimitadas do planeta, que vão marcar ainda mais o futuro próximo humanidade. Sinceramente, assusta pensar nos desequilíbrios cada vez mais gritantes que os mais ricos impõem aos mais pobres.


A globalização como que permitiu que os países mais desenvolvidos determinassem o futuro económico e, por arrastamento, social e político, dos países mais pobres e mais pequenos. Parece que mandam à distância. E isto é preocupante. E humilha em minha opinião as mentes mais sensatas e mais justas, mesmo e muito em particular, as dos países ditos dominantes. Daí não ser difícil interpretar que, aquando de reuniões dos países mais ricos do planeta, se concentrem elites académicas e intelectuais, e não só, em protestos violentos contra as iniciativas políticas que tendem a agravar cada vez mais este processo mundial que, em minha opinião, começa a ganhar contornos de drama. Não me parece exagero falar em drama, bastando para tanto, colocarmo-nos na pele dos biliões de seres humanos que hoje vivem com menos de um dólar por dia e sem acesso a água potável…


Não é isto um drama?


Não é isto uma vergonha?


António Rodrigues

4 comentários:

  1. A novas regras deixaram-se de procurar nos padrões éticos dos princípios dos valores, de projectos de ideais, na continuidade de uma herança civilizacional que vinha da revolução francesa para, de repente, dar poder a grupos que provocam rupturas, grupos que criam irresponsabilidade nas pessoas colectivas, desconhecidas dos Estados porque estes o permitem, para sem quaisquer limites jurídicos e morais darem lugar à corrupção que passou a ser lícita e esta, por sua vez, tomar conta da vida económica mundial. Outrossim, as transacções são feitas em frágeis papéis, sem o suporte na retaguarda do bem material (que para muitos era o ouro). Surge uma crescente marginalização, aparecem manifestações de violência nos países da Europa e nos subúrbios das grandes cidades, a insegurança nas nossas vidas cresce. Não há confiança na Justiça, pilar de um Estado de Direito, o mundo ficou a anestesiado com a globalização. Aparecem novos poderes difusos , os mais pobres ficam ainda mais pobres. Haja coragem para mudar este estado de coisas. A solução: a do Homem solidário que não é unicamente aquele que pode responder, é o que age sabendo que deve responder e que quer responder.

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  2. Efectivamente a globalização é um drama colectivo e arrasta milhões de dramas individuais.
    A humanidade continua a sofrer uma revolução comunicacional, vivendo na "aldeia global" fruto do desenvolvimento tecnológico, caminhando para a sociedade da informação e originando uma revolução cultural.
    A globalização dos mercados agravou as condições dos mais pobres, alterando não apenas a dimensão mas também a natureza da economia, que trocou a produção industrial da Segunda Vaga pela natureza preferencial da Terceira Vaga do conhecimento,provocando uma revolução civilizacional.
    É sabido que as revoluções destroem as estruturas existentes à sua passagem.
    Daí, talvez, poder concluir-se que o drama é demasiado forte por se juntarem demasiadas revoluções ao mesmo tempo.

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  3. AS NOVAS COLONIZAÇÕES

    Somos livres de pensar no que quisermos. Meditamos e extraímos as conclusões que considerarmos como as certas. Agimos em conformidade com o grau de conhecimento.
    Vivemos uma crise inegualável. Os tempos que correm apresentam-se tão assustadores e, tanto mais, quando tudo acontece em grande escala. Terramotos, dilúvios...!

    A haver uma força suprema, diria que ela estará a pôr a nossa civilização à prova de qualquer coisa. Mas Stephen Hawking conclui que Deus não existe e essa seria a força suprema. Claro que ele não é dono do tudo para ser claro e conclusivo!
    Mas, se nos guiamos pela nossa sabedoria e instinto. Se conseguimos desenvolver culturas. Se conseguimos acabar com guerras. Se conseguimos voar longe do nosso planeta. Enfim, se conseguimos ter a coragem de sentir a vida em toda a sua essência, então devemos acreditar que a inteligência existe.
    Conseguir desenvolver um processo no qual sociedades e culturas passaram a fazer parte de uma complexa rede de comunicações, transportes e comércio à escala planetária é algo de supremo. Num reflexo imediato isto aparenta ser o limiar da paz duradoura e do entendimento universal. A riqueza é universal e universalmente será distribuida.
    Mas não é assim e, afinal, estamos todos enganados, mais uma vez.
    A presente crise é disso prova. Veja-se como as raízes de uma árvore convergem para um ponto central. Veja-se como a rede de esgotos de uma cidade converge para um colector principal. Etc. etc.
    Hoje fala-se demasiado em dinheiro. Parece ser o único valor existente. O dinheiro que, num repente, desapareceu. Deixou de existir como da noite para o dia.
    Dinheiro, alimento! É esse o alimento desta globalização. E é a globalização que faz engordar esse dinheiro. É, seguramente, uma dinâmica de fluxo-refluxo que se processa através de toda uma complexa teia mundial que convergirá ao mesmo ponto: o capital!

    O dinheiro é uma das mais importantes invenções. Mas será que o seu uso é o mais inteligente?

    Quem é que tem dinheiro, hoje em dia? Digo, milhares de milhões? Quantos se têm queixado da actual crise? É verdade ou não que esta crise os tem enriquecido ainda mais? Mas afinal quem são eles? Por onde e como é que se movimentam?

    Em conclusão, os donos do dinheiro existem! Eles estão por detrás de tudo isto. Conservam a sua riqueza e, intensamente, anseiam em aumentá-la, seja a que preço fôr. Eles inventam e controlam o poder das leis em qualquer país. Eles estão acima do poder político. Eles ditam o que quiserem. Fazem a paz ou a guerra quando quiserem. Acabam com a crise, de um dia para o outro, quando estiverem saciados.
    Por tudo isto, percorrendo em detalhe esta complexa teia, fácilmente se chega ao Banco Mundial e FMI.

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  4. Tema importante, interessante e actual.
    Neste momento já ninguém tem qualquer sombra de dúvida de que o capital nunca esteve tão concentrado, nem teve tanta força, como tem agora ao passo que os políticos, mesmo comendo alguma coisa, não passam de uns paus mandados dos detentores do vil metal.
    Já lá vão cerca de 25 anos quando o dito senhor do mundo, depois das aberturas e reformas sentidas depois da 2ª Grande Guerra, começou a fazer experiências na China comunista. Aliaram-se e deram-se bem. Ambos ganharam e ganham dinheiro à tripa forra. Direitos humanos o que é isso? Direitos sociais onde é que estão? Pensou-se que poderiam movimentar aquela economia a favor dum povo secularmente obediente e escravizado, mas foi mais fácil a exploração continuada e consentida. Pura ilusão. E hoje é o que temos. É a globalização que nos está a ser impingida, procurando que, mais tarde ou mais cedo, essa coisa dos direitos humanos fique por cá igual aos da China. Meia tigela de arroz por dia, para quem trabalha no duro e já chega.
    Vivem-se pois novos tipos de escravatura há poucos anos inimagináveis. Falta cá um Frei Bartolomeu de las Casas ou um Padre António Vieira, mas não vale a pena esperar porque os tempos agora são outros e gente daquela já não se fabrica. Vivem-se dependências de tudo e mais alguma coisa, cuja movimentação está estudada ao milímetro, sempre no mesmo sentido. O dinheiro existe mas concentra-se cada vez mais nas mesmas mãos com toda a facilidade e perde-se-lhe o rasto. Para onde foram os milhares de milhões do Madoff que existiam? Para onde foram os milhares de milhões do BPN que também existiam mas que também desapareceram? Do primeiro ainda resultou uma pena de prisão de 150 anos para o cérebro. Por cá nem isso, nem pouco mais ou menos. Nem para o cérebro, nem para os ajudantes de feiticeiro.
    Onde é que estão os direitos conquistados pela Revolução Francesa que, mesmo timidamente, foram alastrando pelo Velho Continente? Até a pátria da liberdade está a dar os exemplos que dá. Ainda se barafusta por lá, devagarinho, mas os embarques forçados de regresso continuam. Hoje são os ciganos. Amanhã serão os turcos, depois os argelinos. Mas a continuar tudo como está, também vai chegar a vez dos portugueses.
    É difícil prever os próximos tempos. A ganância e a gula imperam. Tudo serve para que a concentração de dinheiro continue desalmadamente, destruindo tudo e todos e até a natureza. Mas com essa não se pode brincar sempre. Ela já vai apresentando, com alguma frequência, as suas facturas. É certo que por enquanto, como sempre, são os mais desfavorecidos a sentirem mais as suas inclemências e a pagarem as facturas com o corpo. Mas a continuar tudo como está, amanhã nem o dinheiro todo do mundo salvará os seus detentores. É a única consolação que nos resta. Haja esperança.
    Carlos Pinheiro
    16.09.10

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