A mais pequenina

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Princesa

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Quando acabará a brincadeira?

Recentemente comemorámos (ou comemoram alguns) o centenário da República.

Muitos se interrogaram sobre o que se estava de facto a comemorar.


Porquê comemorar a República?


Perguntaram muitos e muitas.


E a resposta não sendo fácil, não deixa no entanto de ser incontornável:


Ela deve ser comemorada! Sem dúvida!


Mas outros há que assim não pensam.


E não têm que ser necessariamente defensores da Monarquia. Basta olhar para a fraca adesão popular no dia do centenário para facilmente se perceber que muitos, mas muitos mesmo, passaram ao lado de efeméride. Apesar da venda intensa do “produto” na comunicação social…


E porque não a querem comemorar, ou, tendo-o feito, fazendo-o sem entusiasmo?


Desde logo, tendo em conta os moldes políticos em que ela foi implantada, porque, por muito que não queiramos, a implantação da república está indelevelmente associada a um regicídio que na altura chocou a Europa e que destroçou a já de si fraca e inconsequente monarquia portuguesa.


Não somos os mesmos com o orgulho – e com razão – de termos feito uma revolução, a de Abril, sem se derramar uma gota de sangue? Pois, em 1910 não foi assim…


Mas, apesar de tudo isto e afinal, que República comemoramos?


A Primeira?

Mãe de todas as bagunças e confusões?

A que também ficou marcada por ataques à Igreja, da matança de padres e da ocupação selvática de mosteiros, numa expressão fantástica da liberdade de expressão que a república então dizia oferecer? Que, já sem rei e sem roque, substituía governos atrás de governos, governantes das então províncias ultramarinas, que só governavam meia dúzia de dias…para logo de seguida dar lugar ao próximo. E assim sucessivamente…


Ou a Segunda?

A da ditadura salazarista, num país orgulhosamente só, que promoveu a divisão dos portugueses e que os empurrou para uma guerra injusta e intolerável? E que fomentou a emigração conferindo-lhe um factor de humilhação que ela não tem que ter quando é opção em país livre. A ditadura da PIDE, da perseguição e da prisão por delito de opinião?


Ou a Terceira?

Esta que hoje vivemos. A da revolução dos cravos, a tal que não teve sangue, que nos trouxe a liberdade e o orgulho de sermos portugueses e donos do nosso destino?

A mesma que viveu os exageros da revolução, as ocupações selváticas das fábricas, das nacionalizações a qualquer preço, numa verdadeira antecâmara da implantação da uma nova ditadura que quase levou o país à guerra civil?


Ou, a mesma revolução dos cravos que nos reencaminhou para uma Europa de Liberdade e de desenvolvimento, que nos últimos 20 anos nos remeteu biliões de euros e que, também por isso, nos guindou para patamares de desenvolvimento e de qualidade de vida nunca antes vistos em território luso?


É evidente que a verdadeira e inquestionável comemoração é a da Revolução de Abril.

A que nos trouxe a república plena, de direitos e de liberdades, em que o poder do povo se exprime pelo seu sentido crítico, opinativo e, muito mais do que isso, nas opções políticas que o voto lhe confere.


Mas a República somos - também - todos nós.


Por isso, nos “auto-comemoramos”. Nas nossas misérias e grandezas.


Afinal comemorámos um país que faz vida de rico, mas que rico não é! Um país endividado de uma forma quase dramática e que está a soldo das miseráveis ganâncias dos mercados financeiros.


Mas Portugal não está em crise. Em crise estão os países que sempre foram ricos e sempre produziram e geraram riqueza e que, de um momento para o outro, se viram envolvidos nesta crise que é acima de tudo internacional. Não estamos em crise, porque nunca fomos ricos a “sério”… vivemos sempre, ou quase sempre, acima das nossas possibilidades. E todos temos responsabilidades, uns mais outros menos, nesta situação em que caímos e vivemos, que é também a vergonhosa herança que deixamos aos nossos filhos e netos…


Somos a “res-publica” em que, apesar de tudo isto, os políticos parecem brincar com o Povo. O Povo que merecia muito, mas muito mais respeito. E digo brincar porque até parece que a nível interno todos estão isentos de responsabilidades. Nada mais errado.


PS e PSD que se sentem à mesa e meditem.


Aquele mais do que este, porque mais tempo na governança… se é verdade que muitos dos problemas são provocados por factores externos, também não é menos verdade que o triste espectáculo a que hoje se assiste, sobre a aprovação ou não do Orçamento, não pode deixar de nos indignar… Até parece que esta gente que teima em não se entender vive num país rico em que ninguém, mesmo ninguém, sofre. Em Portugal não há desempregados, não há gente a viver em absoluta pobreza, gente que perdeu a esperança e, mais do que isso, não pode dar esperança aos filhos de um futuro mais risonho e mais feliz. Gente que, por isso mesmo, se revolta perante tanta insensatez política.


E é isto que dói! E muito!


É também esta a República que comemoramos.


A da insensibilidade de quem

governa e de quem quer vir a governar… em que, mais do que nunca, o que conta é a cínica contagem de espingardas e medição de consequências políticas e partidárias de um eventual chumbo e, muito menos, as consequências de tão tristes e deploráveis cenas, num país que para além de confiança e de união, precisa de saber respeitar e minimizar os dramas dos que sofrem e que, por isso mesmo, deixaram de acreditar nos políticas e na política.


Como se o chumbo não fosse somar mais problemas, ao problema que hoje somos!


Seria muito mau.


Mas nós somos assim!


E assim nos comemoramos.





António Rodrigues




6 comentários:

  1. A MAIORIDADE DA REPÚBLICA - 1

    Na minha opinião, comemorámos este ano os 100 anos da república - a que nasceu em 1910.
    E a república de hoje é a mesma de então, na sua génese. Nada nasce completo, perfeito. O percurso do crescimento é, de uma

    forma ou de outra, tortuoso. Nunca rectilíneo. É isso que faz a maturação. Porque com os erros se corrige e com o conhecimento se

    desenvolve.

    Muitas convulsões houve no percurso da nossa república. A sede de poder gera invejas e necessidades de protagonismo. A sede de

    poder gera guerras e tragédias. E é o povo, a ralé, os indefesos, a massa bruta quem serve de tapete a todos esses cavernosos jogos

    de poder. A história encarregar-se-á de os caracterizar e catalogar.

    Assim tivémos, então, as três repúblicas. A última, que deveria ser a mais brilhante, porque assim começou, arrisca-se a ser uma das

    mais hediondas. Pela sede de poder, a todo custo. Pela exigência de protagonismo no curso da história. Pela arrogância com que

    demagógicamente se incendeiam as mentes de um povo depauperado. Entrámos numa fase intensamente estranha da história da

    nossa república. Não há memória, desde o 25 de Abril de tamanho assalto ao poder. E é à direita e à esquerda que as trompas

    entoam. Mas isto tem únicamente a ver com um "fenómeno" muito simples: este governo socialista tem conseguido realizar uma

    verdadeira e grandiosa revolução desde o 25 de Abril. Ora, a continuar com o mesmo ritmo, é óbvio que manter-se-á no poder enquanto

    a obra for positiva. Isso traduzir-se-ia numa longa travessia do deserto para toda a oposição. Então nada mais simples do que

    aproveitar... o falso diploma do primeiro ministro... a Casa Pia... o outlet ilegal... as escutas telefónicas... o PEC... o orçamento. A crise

    internacional! Ah essa não existe! O desemprego de 20% em Espanha é uma brincadeira... A Irlanda... A Grécia...
    E imaginemos o cenário: este governo sai e no dia seguinte temos Passos Coelhos a orientar a nossa economia. Nós acordaremos

    radiantes e cheios de energia porque Portugal, finalmente, respira aliviado!? Será assim? O não será pior? Não será o cenário do

    costume? "Caros portugueses! Isto está muito pior do que aquilo que pensámos. A destruição é profunda. Vamos ter que tomar

    medidas muito duras imediatamente, caso queiramos manter a nossa independência e plena soberania". E ficaremos boquiabertos e

    interrogar-nos-emos: mas é isto o poder?

    Temos um presidente da república que mais parece a rainha da Inglaterra. Que se cala porque deve calar. Que nada faz porque não se

    deve intrometer na ordem partidária. Que pensem bem antes de avançar com obras de vulto, etc e por aí fora. Parece um pai de família

    que se cala quando a família entra e colapso.

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  2. A MAIORIDADE DA REPÚBLICA - Parte 2

    Haja alguém que diga qual é o país neste momento que está bem?

    Não nos esqueçamos que há efectivamente profissionais da política. Temo-los desde a extrema direita à extrema esquerda. Nutrem

    bem o espírito da demagogia e da falta de respeito pelo cidadão. Para eles o dia dia é um jogo de estratégias e da manipulação de

    obscuros interesses. Movem-se pelos corredores do parlamento, das sedes partidárias. pelos meandros da justiça e, normalmente,

    norteiam-se pelo cheiro do capital. Felizmente nem todos os políticos assim são e, quando aparecem, num ápice, tornam-se figuras a

    abater.

    Tudo isto gera o desencanto e o desânimo. Acredito que a população diria sim ao espírito de sacrifício generalizado se sentisse menos

    ódios naquelas bancadas, de um parlamento já completamente esfrangalhado. Nunca, naquele hemiciclo,desde o 25 de Abril, se viu

    tão pouca qualidade política! Por isso o povo se revolta com toda a razão. E revolta-se como sempre se revoltou, seja qual for o governo

    do poder. O povo ficou triste.

    E esta tristeza impede que se comemore. A república parece ter perdido o sabor. A república ainda não trouxe a alegria. Os políticos

    não dão uma palavra de esperança. A justiça anda completamente perdida.

    Sobra o 25 de Abril. Concordo. A República, a madura, é o 25 de Abril. Esse bem que vamos preservar. Sem derrame de sangue e com

    cravos nas espingardas. Démos um exemplo ao mundo.

    Se perdermos essa memória, esse bem, e se destruirmos tudo o que de bom foi realizado nos últimos anos, então é caso para dizer:
    Quero a monarquia outra vez. Quero recomeçar tudo desde o 9 de Outubro de 1910 e daí para a frente continuar em monarquia. Quero

    viver num país estável como a Holanda, Dinamarca, Suécia, Noruega, Inglaterra, Espanha... afinal ainda são monarquias!

    Mas, por enquanto... prefiro acreditar que somos um povo inteligente e nada disso vai ser preciso.

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  3. “E porque, como vistes , tem passados
    Na viagem tão asperos perigos,
    Tantos climas, e ceos exprimentados ,
    Tanto furor de ventos inimigos;
    Que sejam, determino, agasalhados
    Nesta costa Africana, como amigos ;
    E tendo guarnecida a lassa frota ,
    Começarão a seguir sua longa rota”.
    Lusíadas, Canto I
    Alguns homens valorizam a importância da verdade, aquela verdade que demanda, assimila e inquieta a nossa consciência. Esta cultura, da verdade, declara-se na generosidade das nossas acções e nos actos de solidariedade que hodiernamente praticamos.
    Não podemos, como cidadãos, ficar indiferentes à conjuntura actual. Estejamos unidos no espírito, cientes que o importante é cumprir a missão e servir ( e não servir-se de) Portugal.

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  4. O nevoeiro da República

    Pela qualidade dos resultados alcançados pelo conjunto da formação social pode ser avaliada a competência da classe política que assumiu a responsabilidade de dirigir um povo. E na verdade esta 3ª República, já com 26 anos, confronta-se agora com uma realidade social e económica que lhe é pouco abonatória. E se para os fracos resultados das duas primeiras repúblicas ainda podemos encontrar explicações satisfatórias (inexperiência política, atraso educacional e cultural, falta de liberdade de expressão, guerras coloniais, etc.), para o fracassado desempenho da 3º já dificilmente se encontram razões convincentes, pois esta nossa democracia evoluíu num tempo em que já todos os sistemas políticos e económicos estavam internacionalmente testados. Não nos podemos queixar de não ter tido a oportunidade de escolher os melhores caminhos; a própria ideologia progressista e libertária de que a “revolução dos cravos” se fez acompanhar, perspectivava que algo de grandioso e inovador se poderia desenvolver em Portugal.

    Já não seria de acreditar que se ambicionasse criar um espaço de “Liberdade, igualdade, fraternidade” ou “de cada um segundo suas capacidades a cada um segundo as suas necessidades” (que nem as autónomas comunidades hippies dos anos 60/70 conseguiram), mas no mínimo esperava-se a construção de sistemas de educação, de saúde e de segurança social que mostrassem elevados graus de sucesso. Mas antes pelo contrário, os resultados obtidos nestas áreas são decepcionantes ou mesmo vergonhosos (caso da educação).
    E não foi o presente cenário que prometeram as sucessivas corporações de políticos que passaram pelo poder. E maior ainda a desilusão. Para além de terem feito mal os trabalhos de casa e não terem aprendido com os erros cometidos, assobiam os governantes agora para o ar como ingénuos e inocentes ignorantes, perante o destapar do véu que a muitos encobria as absurdas mordomias, as incompetências descaradas, e os negócios insensatos e pouco transparentes.
    Muitos destes especializados e insuspeitos protagonistas da causa pública, que ainda há poucos anos alardeavam a pujança da economia portuguesa (salvo algumas meritórias mas incómodas vozes), vêm agora, em coro, anunciar a desgraçada situação do País, de que “todos são responsáveis” por quererem viver acima das suas possibilidades. Saem no entanto rapidamente de cena, devidamente indemnizados pela tão elevada dedicação à causa pública, deixando para a geração seguinte a penosa tarefa de resolver o problema.
    Se há algo que a análise materialista dialéctica deixou esclarecido foi que o factor económico é sempre determinante no desenrolar imediato dos acontecimentos sociais. Quando se quer consumir mais do que se produz, isso é possível, mas alguém tem de emprestar a diferença. No entanto, o factor dominante a médio/longo prazo é o político, e daí virá a solução. Há que mudar a política e os políticos, se quisermos! Muita “coisa” desnecessária se fez, mas também muita outra boa ficou feita. E o que se fez ficou feito. Agora há que pagar a factura. Paciência (é a lei das compensações)!
    Será que uma monarquia constitucional, teria feito melhor? Jamais se saberá. Noutros lados algumas fizeram.

    Mais uma vez deixámos desiludido o Fernando Pessoa, e ainda não será desta que o poeta verá cumprido o seu prognóstico - Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

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  5. Concordo com o comentário de Mário de Deus. Não só concordo, como gostaria de assim saber escrever. Obrigado por ter visitado este blogue.
    AR

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  6. Concordo com o comentário de Mário de Deus que cinsidero bem arquitectado. Mas a frase, quase final "Será que uma monarquia constitucional, teria feito melhor? Jamais se saberá. Noutros lados algumas fizeram." deixou-me um pouco baralhado depois duma boa apresentação. Em minha opinião, o descalabro que tem vindo a acontecer, desde que começou a chegar dinheiro a rodos vindo da CEE, aconteceria também noutro tipo de regime que mantivesse pessoas no poder como aquelas que cá têm estado, incapazes porque não souberam gerir de forma transparente e honesta os meios que tiveram à sua disposição. Como prémio de tanto disparate feito e/ou autorizado, foram oferecidas prateleiras douradas, a alguns que abandonaram o barco, nesta aldeia global. Se essas ofertas continuarem, amanhã esses senhores e os outros que se preparam para os seguir, já não terão pátria porque entretanto ela deixou de existir para eles e para nós. Eles não se importarão certamente porque se sentem bem. Mas isto não pode acabar assim. Vamos a ver.

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