Quando intitulo esta minha pequena divagação pela estratégia da língua, ou se quisermos das línguas, de “Europa das Europas”, faço-o precisamente porque penso que é isso mesmo que hoje temos no contexto da União Europeia. Seremos porventura a maior união política do mundo onde o multilinguismo é respeitado de uma forma clara e objectiva, de tal modo que os seus custos têm quinhão muito expressivo nos orçamentos da União. E é precisamente por isso que as “europas” se dispersam pela Europa, pelo simples facto de ao longo dos séculos se ter construído no continente em que vivemos, a afirmação, a conjugação e a articulação da sua riqueza multilinguística, com tantos países e tantas línguas, inseridos num espaço relativamente pequeno. No passado recente, cada país era uma riqueza e uma identidade tão fechada e tão assente nas suas géneses e tradições, que só os tempos modernos, por força da informação e da queda das fronteiras, permitiram outro tipo de evolução. E de interacção.
Quer queiramos quer não, esta matriz identitária dos povos, é hoje um “puzzle” na Europa unida pela política, mas nunca unida pela língua e muito menos pelos costumes.
E é esta exactamente a sua riqueza… e é neste tabuleiro de diversidades culturais que se jogará o futuro da União, nomeadamente a sua identidade que resultará recauchutada, fruto das políticas de miscigenação politica, cultural e social, com a aplicação e a adesão aos programas Erasmus, Sócrates, Leonardo da Vinci e outros que tais…
Precisamente porque os europeus salvaguardaram à união política a não união linguística, de resto impossível, resulta daqui como que uma disputa de liderança de língua em que o Inglês, o Francês e o Alemão, marcam a dianteira, não necessariamente pelos méritos da língua e muito menos pelas sua representatividade mundial, mas antes por questões estratégicas e de representatividade nacional. E da força do dinheiro…
A Europa respeita a liberdade, a democracia e a diversidade e, nesse contexto, também o multilinguismo é respeitado, de tal modo que lhe criou um marco: o Dia Europeu das Línguas. Assim, reconhece que esta diversidade linguística é um dos pontos de honra da Europa, em que a aprendizagem das línguas é factor de tolerância e de respeito mútuo.
O inglês é hoje, inequivocamente, a língua que, depois da materna, mais se aprende ou ensina, não só na Europa como um pouco por todo o Mundo. Por isso mesmo, se tornou aqui a e acolá numa espécie de “crioulo” tal a dimensão da adulteração da sua génese. Aliás, este tipo de fenómeno levou a que, em Torres Novas, o Professor Adriano Moreira se referisse à língua inglesa como o “Globis” ou o Tradut, algo que resultará de um inglês transversal a todo o fenómeno linguístico universal.
A União aconselha e sugere que para além da língua materna, se aprendam mais duas línguas, o que é mais um reforço da estratégia de tolerância e de respeito pelos valores do diálogo intercultural, que há-de ser, se o não é já, a alma de uma União Europeia rica e desenvolvida, que o futuro há-de atestar.
Portugal, em minha opinião, soube e bem, nos anos 80 e 90 do outro século, defender a manutenção da língua portuguesa nos milhões de emigrantes espalhados pelo continente europeu. Tivemos, por ali dispersos, centenas e centenas de professores a ensinar o português aos filhos dos nossos emigrantes. Um feito que passou despercebido ao comum do cidadão mas que foi determinante para a afirmação e para o respeito do nosso idioma.
E se hoje essa “batalha” está, eventualmente ganha, falta perceber se o português consegue sobreviver num mundo de disputa pela utilização e afirmação das línguas, numa Europa prenhe de diversidades linguísticas em que adicionamos às línguas oficias e indígenas, todo o manancial de expressão oral oriundo de outros continentes, muito em particular de África e de Ásia. Falantes que hoje inundam a União Europeia em busca de melhores dias.
Abençoada expansão marítima portuguesa que permitiu a divulgação e também a expansão da nossa língua um pouco por todo o mundo. Se tal não tivesse acontecido e se hoje não fossemos 240 milhões a falar a língua de Camões, os riscos próprios da língua de um país pequeno e periférico da Europa, seriam enormes e o seu futuro muito comprometido.
Quando um intelecto com a dimensão de Adriano Moreira, afirma sem pejo, que dentro de 20 anos a língua italiana, “mãe” de um país rico e nesse contexto nada comparado com Portugal, poderá estar em risco de acabar, o que seria do português se só fosse falado no nosso rectângulo ibérico?
Abençoado Vasco da Gama, Cabral e quejandos.
António Rodrigues
ESPERANTO DA ESPERANÇA
ResponderEliminarEm finais do século XIX, o polaco Zamenhof inventou uma língua, sabia muito bem por que o fazia. Na região onde vivia era caracterizada por uma multiplicidade de povos com alguma variedade linguística. Ora, por haver grande dificuldade na intercomunicação, inventou o Esperanto.
Esta língua pretendia ser o elo de ligação entre todos os povos. Ao que parece, é construída numa base gramatical simplificada o que facilita a sua aprendizagem. Houve, ao longo dos anos, muitas associações culturais, partidárias, económicas, etc que apoiaram e fomentaram a aprendizagem do esperanto. O Ayatollah Khomeini foi um dos partidários desta língua. Logo a seguir ao 25 de Abril, observou-se, em Portugal, a sua tentativa de introdução. Parece esquecida entre nós, hoje.
Havendo uma forma de comunicar comum, sem dúvida que tudo facilita. Imagine-se ir às compras a Abrantes e ter dificuldades em se expremir! Num universo onde impera a livre circulação, de pouco adiantará eu ir para a Finlândia para trabalhar, caso não entenda a língua! Quanto não se gasta ao nível das ONU, com os serviços de tradução? Serão valores astronómicos. E na União Europeia? Independentemente da salvaguarda das línguas milenares, por razão cultural, haveria todas as vantagens duma língua comum e universal.