Começa a cheirar muito mal todo o tipo de incoerências e de injustiças a que o país assiste… impunemente, assim parece.
Já não basta aquelas que aparentemente são incontornáveis ou pelos menos de resolução difícil, quanto mais aquelas que são fruto da incompetência, do oportunismo e do “xico-espertismo” de alguns políticos.
Não percebo e sinto até alguma revolta, em como foi possível que o grupo parlamentar do PS tivesse aceitado e votado essa escandalosa isenção de impostos a aplicar aos dividendos antecipados da PT, Portucel, Jerónimo Martins, entre outras. E com essa postura, ao que parece, terá arrastado a posição do PSD que, diga-se, também não fica nada bem na fotografia.
Então, a lei só se aplica a alguns?
A crise não é para ser suportada por todos de forma equitativa?
E a coerência da matriz identitária do PS?
Se ela não é bandeira em tempo de crise, então, quando o será?
Onde pára a veia humanista do PS?
E nem quero acreditar que a posição socialista tenha a ver com a proveniência da proposta. Não me parece que ela tenha perdido oportunidade e justiça social, só porque proveniente da CDU...
Mas esta situação gera outra ainda mais grave e que esmaga por completo aquela que já por si é miserável e nula: a imagem e a liberdade da acção política dos deputados, diga-se, que generalizada a todo o parlamento. Quando nestes assuntos tão sérios e profundos, que colidem com os princípios e a génese política de alguém supostamente militante partidário, eleito precisamente com base nesses princípios e, na hora da verdade, tem que os ignorar e, mais do que isso, votar contra a sua vontade em detrimento da vontade das cúpulas, há que perguntar: para que serve o parlamento? Para que serve votar?
Para ratificar a vontade das cúpulas e chefias?
Para que servem os partidos e os seus militantes?
Para eleger lideres e depois ser-lhes subserviente, andar com eles ao colo e ser escravo das suas vontades?
Eis a deturpação de toda a lógica da representatividade democrática.
Uhm! Isto não está bem! E cheira mal!
Não há nesta decisão qualquer equidade e justiça social e ainda sobeja humilhação para um parlamento, que o é cada vez menos, em particular para alguns grupos parlamentares…
A uns, aumentam-se impostos, corta-se nos vencimentos e anulam-se subsídios que agravam dramas e pobrezas. A outros, perdoam-se impostos…
Como se não bastasse, aparece agora um gesto de puro xico-espertismo do Dr. César dos Açores, que quer evitar que o arquipélago sinta na pele o que os do continente são obrigados a suportar… a crise que a todos deveria afectar. E quer fazer compensações aos ilhéus, nos cortes dos vencimentos e quejandos. Anda gente preocupada com a constitucionalidade da decisão. Que estupidez!
Então?
Se for constitucional, a atitude do homem dos Açores passa a ser eticamente correcta e moralmente aceite?
E, já agora, como apontam César como um dos eventuais candidatos a sucessor de Sócrates, por mim fiquei esclarecido. Com este tipo de atitudes, dispenso-o.
Pois, se fosse o imprevisível Jardim a lançar esta ideia, cairia o carmo e a trindade. E não basta a preocupação de Cavaco e Sócrates. É pouco! Terão que fazer muito mais, se tiverem coragem e autoridade.
E é esta que cada vez mais está ausente neste país e que, por ausência dela, nos arrastam cada vez mais para o fosso.
A mesma autoridade ou falta dela, que caracteriza essa vergonha nacional, de termos gestores em empresas públicas, quais vacas sagradas de iluminação celestial, que ganham num mês, mais do que o Presidente da República aufere em anos. Ainda há dias, uma entrevistadora da RTP, entrevistava o primeiro ministro de Portugal. Eis um bom exemplo da vergonha e do destempero a que chegou a justiça salarial que caracteriza a aplicação dos dinheiros públicos! Ou falta dela... A entrevistadora ganha o triplo do entrevistado. E, com o sim político e a assinatura do entrevistado, que só este ano transferiu 200 milhões de euros para a RTP.
Dinheiro dos nossos impostos.
Como conseguem sobrevir os canais privados? É a pergunta que apetece.
Tudo isto e muito mais que não foi aqui referido, prova que isto ainda não bateu no fundo. Ainda há muita gente a brincar com coisas muito sérias… e a brincar com o sofrimento de milhares de pessoas que, por mero acaso, também são portugueses.
Até que o Povo, o tal que elege deputados que acabam por não o ser, transforme em acções concretas a revolta que lhes vai na alma. E, infelizmente, esta não é uma expressão de retórica, que até poderá ficar bem no fim de um texto.
Não!
É o risco que se corre.
E um texto que gostaria de não ter escrito.
So.. Sir...will the Portuguese finally wake up and fight back or will they be the silent majority. Clearly there is a complete lack of leadership in Portugal.Being the poorest nation in Europe has to be the ultimate embarrassment for the people of Portugal.What will they do..??
ResponderEliminarWarmest regards
John
Concerned Portuguese resident
Sou uma torrejana que, não sendo do circulo de convívio do Drº António Rodrigues, sempre admirou as obras feitas por ele em Torres Novas e o elogiou.
ResponderEliminarHoje ao ler o seu blog sinto-me inchada de orgulho de o ter como Presidente de Torres Novas.
Este é o António Rodrigues que eu conheço.
ResponderEliminarHelder Duque
Um ribatejano pega o boi pelos cornos, de caras. Neste artigo, posso ficar como 2ª ajuda.
ResponderEliminarDou-lhe os meus parabens por este artigo e pela oportunidade do mesmo. Mas tenha atenção. Eu por muito menos fui demitido do PS quando aconteceu a tempestade autárquica em 2001.
ResponderEliminarGostei MUITO do que li. Assim, e apesar de já não acreditar em partidos de poder e de oposição, cresce-me uma nova fé quanto à ética e integridade que persiste em algumas pessoas - como é o seu caso, Presidente. Boa!
ResponderEliminarCaramba, Presidente, este texto vai fazer ranger alguns queixais.
ResponderEliminarObrigada, muito Obrigada! É urgente reagir ao estado da politica actual. Estamos num tempo de descaracterização de ideiais politicos, de desnorteamento que nos deixa muito inquietos.
ResponderEliminarBem Haja Presidente.
Maria da Luz
Obrigada, muito Obrigada.
ResponderEliminarAndamos irritados, muito desconfortáveis com o modo de fazer politica actual.Urge agir... urge exigir politicos que abracem a causa pública e abandonem o olhar para os seus sapatos.
Bem Haja Presidente.
Contesta António Rodrigues que o PS tenha votado contra só porque a proposta era da CDU. Mas não é o que o PS e A. Rodrigues fazem em Torres Novas. Tudo o que vem da CDU vota-se contra, por vezes sem ouvir a proposta, como foi exemplo proposta de protocolo com as freguesias. Como diz o povo" olha para o que faço, não olhes para o que eu digo"
ResponderEliminarPois é Caro Ramiro. Gostei do seu comentário e, democraticamente publiquei-o. E sabe porquê? Porque para além do Ramiro misturar o que não deve ser misturado, ainda o lembro que nunca a CDU em Torres Novas votou favoravelmente um orçamento. Votou sempre CONTRA.
ResponderEliminarMas, amigos como dantes. É isto a democracia.
Tenha um bom ano de 2011.
AR