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Princesa

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Rambouillet - cidade multicultural



Rambouillet é uma referência incontornável da história francesa e está situada numa área privilegiada nas cercanias de grandes e verdejantes florestas que nos enchem a alma e nos inspiram serenidade e paz de espírito. Florestas intercaladas por lindos e grandes lagos naturais, onde abunda a pesca e os patos se deliciam, em torno dos quais famílias inteiras desfrutam do espaço para os tão usais piqueniques. A cidade propriamente dita, está totalmente ligada a esta floresta, qual quintal gigantesco daquela, mas a porta mais conhecida e referenciada é, sem dúvida, aquela que a liga ao Palácio Presidencial, local de acolhimento para grandes eventos políticos de índole nacional e internacional.

Rambouillet está repleta de grandes e bonitos edifícios do séc. XVIII, que albergam escolas, serviços do estado e serviços municipais, entre outros.

Há uma elevadíssima qualidade de vida nesta Rambouillet. Uma cidade que inspira segurança, porque ela de facto existe, onde o desemprego tem índices muito reduzidos e onde todos os serviços públicos estão ao dispor da população, sem excepção. Rambouillet poderá bem ser um dos símbolos de uma cidade multicultural. E um símbolo exemplar.

A figura incontornável por detrás do que atrás referi é sem margem para dúvidas o seu Maire, há 27 anos no exercício daquelas funções, que hoje acumula com as de Presidente do Senado Francês, precisamente a segunda figura política de França, logo a seguir ao Presidente Sarkozy.

Homem afável, tão dinâmico quanto sensível, é uma autêntica força da natureza que calhou em sorte àquela cidade. E é um homem da multiculturalidade, no discurso e na acção!

Gérard Larcher. É ele o Maire, é ele o Presidente do Senado de França.

E é aqui que tudo se enquadra na nossa árdua tarefa de perceber, e bem interpretarmos, o que são as verdadeiras políticas de acolhimento ao imigrante.

Em Rambouillet há muitas e variadas comunidades de imigrantes, mais concretamente a portuguesa (talvez a maior), a espanhola, a irlandesa, a chinesa, a brasileira, a africana, a romena, a ucraniana e até a americana.

Vamos às políticas concretas que testemunhei:


  1. As crianças destas comunidades de imigrantes têm, semanalmente, aulas específicas para aprendizagem da sua língua de origem, a par de iniciativas semanais de apoio não só à preservação como a promoção e vivência das culturas de origem.

  2. As associações locais de comunidades estrangeiras recebem apoios financeiros da autarquia local, para a promoção de acções de apoio a actividades ligadas à promoção das suas culturas e língua de origem.
  3. Há igualdade plena de trato, quer no emprego, quer na obtenção ou fruição de todo e qualquer serviço público e municipal

  4. Há representantes das comunidades estrangeiras em alguns dos órgãos municipais.

  5. Filhos de imigrantes ocupam hoje lugar de relevo na vida comunitária de Rambouillet e têm, inclusivamente, actividades profissionais de alta responsabilidade técnica e política.

  6. Respira-se em toda a comunidade um recíproco respeito entre todo o tipo de cidadãos.

  7. Há uma efectiva abrangência de toda e qualquer iniciativa municipal a todo e qualquer munícipe independentemente da sua origem, da sua cor, credo religioso ou convicção política.
  8. As comissões de geminação da Câmara de Rambouillet têm obrigatoriamente representantes das comunidades dos respectivos países envolvidos.

Tive sorte em participar na Festa do Muguet, acontecimento municipal anual que mobiliza os 27 mil habitantes daquela cidade.E foi aqui que vi a “prática da política multicultural”. Vamos identificar os gestos e as atitudes que tivemos o gosto de partilhar:

a) A rainha da Festa do Muguet, eleita por voto secreto pelo universo de 250 associações, é portuguesa, filha de pais de Vagos, distrito de Aveiro.

b) Das duas “damas de honor” que ladeiam a rainha, uma é francesa e a outra de Martinica.

c) A recepção à rainha da Festa do Muguet foi realizada no arraial da festa em pleno jardim ladeado por um enorme lago durante a noite de festa. Vê-se chegar a jovem num barco moliceiro de Aveiro com as cores da bandeira de Portugal, nele bem expressas.
d) O fogo-de-artifício, com que foi encerrada a noite, teve como penúltimo tema musical, em homenagem aos imigrantes portugueses, uma canção de Amália… “uma família portuguesa”.
e) O Presidente do Senado e Maire da cidade não só convidou o Presidente da autarquia torrejana a coroar a rainha, como o convidou a usar da palavra perante milhares de pessoas, entre as quais largas centenas de emigrantes da nossa lusa pátria

f) No auge e último dia da festa, Domingo, 9 de Maio, foi exibida de uma forma tão solene quanto sincera, a expressão maior da política municipal de integração dos imigrantes de Rambouillet, mais concretamente o desfile de carros alegóricos, simbolizando cada um deles o melhor da tradição de cada uma das comunidades.

g) Cada comunidade se fez representar com o melhor da sua cultura de origem, com carro decorado em função do tema escolhido, com os figurantes nacionais vestidos com os trajos usuais nas suas terras de origem. (a comunidade portuguesa apresentou um carro com uma garrafa gigante de vinho do Porto, totalmente feita com a folha e a flor do Muguet)

h) Gestos de respeito e de profunda preocupação para que tudo saísse bem foram uma constante por parte do Maire de Rambouillet.

i) Nas intervenções políticas ouve sempre a preocupação nítida para que os imigrantes sentissem a importância que tem para Rambouillet e para o país, a presença das comunidades imigrantes que, forçosamente, terão de se sentir como em sua casa. A naturalidade e a espontaneidade das intervenções, seguramente que são o reflexo da velha sigla francês, tão antiga quanto actual, liberdade, igualdade e fraternidade…

E é precisamente nesta expressão da revolução francesa, sempre tão presente e tão actual, que assenta toda uma lógica política de respeito e de políticas efectivas de integração de imigrantes.

No dia 8 de Maio, foi o Presidente da Câmara de Torres Novas convidado a depor um ramo de flores, no Monumento ao Mortos da I Grande Guerra, mas em homenagem aos mortos da II Guerra Mundial, pois que naquele dia se comemora em França a derrota da Alemanha nazi.

Dizia o Maire Larcher, que foi precisamente o drama e a miséria da guerra que durante cinco anos vitimou milhares de franceses e milhões de europeus, que ainda hoje ensina as actuais e as gerações de então, a promoverem processos de integração de comunidades imigrantes assentes nos direitos humanos e no respeito que a todos é devido. Assim se constrói a paz, assim se mantém a paz, no respeito mútuo das identidades culturais e linguísticas de cada.

É também neste contexto que Rambouillet promove geminações, precisamente para que estas se articulem com as comunidades correspondentes, formando elas próprias um outro mecanismo de apoio efectivo à integração social dos homens e mulheres que deixaram os seus países em busca de uma vida melhor…

Liberdade, Igualdade e Fraternidade…

Um mote que parece sempre presente na vida das comunidades imigrantes em Rambouillet.


António Rodrigues



Rambouillet Maio de 2010





1 comentário:

  1. Um bom texto para ler hoje, 8 de Julho, dia da Cidade de Torres Novas.
    Um bom texto para reflectirmos sobre a importância da participação das populações na vida da(s) Cidade(s). Na discussão do seu futuro.
    Lá, em Rambouillet, como cá. Sem (pre)conceitos e com abertura de espírito pelas diferentes visões. Onde a maioria escuta as minorias. Porque afinal somos muitos: os que gostamos da nossa terra.

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